segunda-feira, maio 28, 2007

Coisas de criança


7 de fevereiro de 2006.

Estávamos almoçando quando comentei da cebola:
- Esta cebola está... - e fiz um gesto de que estava picante, ardida, quente... sei lá! Dá para entender.
- É, quando eu estava cortando até fechei os olhos.
- Por que, mãe?
- Porque estavam ardendo! A cebola solta um negócio que...
- Ah, da próxima vez eu te empresto minha máscara de mergulho!
Escancarei na hora uma gargalhada, imaginando a cena. Cortar cebola usando máscara de mergulho! Cada uma...

Uma história real


2 de fevereiro de 2006.
Uma história real
Informações incompletas
Palavras desconexas

Resolveu ir para o Japão. Lá arrumou um casamento, mas obedecendo todas as exigências do futuro sogro. Segundo consta, este último era rico e influente. Tinha, porém, apenas filhas, mulheres, que não poderiam dar seqüência ao nome da família. A exigência, portanto, foi que o noivo abrisse mão de sua identidade e adotasse o nome da família do sogro.
...
O primeiro nascimento trouxe uma criança do sexo feminino. O segundo veio homem e também o terceiro. Após este terceiro, uma separação. As informações que chegaram ao Brasil, à família dele, foram de que era uma separação ordenada pelo sogro. Era como se depois de gerar dois homens, que poderiam dar prosseguimento ao nome da família, ele estivesse sendo descartado, jogado fora mesmo.
...
Ficou louco. Apegadíssimo aos filhos, e eles ao pai, não se conformava com a distância. Brigou. Chegou a pensar que a mãe de seus filhos o traíra. Brigou. Foi preso por agressão e impedido, por tribunal, de aproximar-se dos filhos. Definitivamente. Ficou louco.
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Sem emprego – trabalhava com o sogro, sem teto, sem nada, sem raciocínio até, começou a ter visões. Viu seu avô japonês, que havia anos morrera no Brasil, lhe dizer que havia uma herança. O dinheiro era muito. Fora usado pelas Nações Unidas para financiar países mundo afora. Mas era um dinheiro que pertencia, agora, a ele, seu neto. Suas visões alucinadas ainda lhe mostraram sósias, homens que se faziam passar por ele para apossarem-se de toda a herança. Ficou louco. Viu-se livre da cadeia tempos depois. E voltou à luta por ver os filhos.
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Veio a papelada do divórcio. Obrigado, assinou. A mãe chorava para que ele voltasse ao Brasil. Implorava. Chegou a dizer-lhe que iria ela, então, até o Japão. Não. Não foram todas as respostas. Ele só voltaria para o Brasil com os filhos. Mas não tinha assistência. Nem médica, nem judicial, nenhuma. Divórcio, rua, alguns amigos, talvez apenas dois.
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Telefonava para a mãe a cobrar. Falava apenas coisas desconexas, de suas visões, de brigas e ameaças do sogro. Disse que mataria o avô de seus filhos. Dizia que ele também prometia matá-lo.
...
O telefone tocou no Brasil. Morrera. Acidente de carro. Quebrou um poste e um muro. E o carro. E a vida. De onde vinha? Para onde ia? Por que a alta velocidade? Sabotagem? Assassinado? Suicida? Ou apenas mais um acidente no mundo?
Ninguém sabe. Ninguém por aqui saberá. Apenas a história deve ser engolida, da maneira como foi narrada pelos japoneses.
...
O corpo não vem. Vêm as cinzas. Cremar foi a decisão. A família por aqui não tinha como fazer diferente. O dinheiro não existe. Embalsamar, reconstituir como disseram ser necessário, despachar o corpo... mais de setenta mil reais. Quantos possuem tamanho dinheiro guardado, disponível? Engolir tudo foi a decisão.

Voltei


1º de fevereiro de 2006.

Estive fora na semana passada. Aproveitei o feriado do aniversário de São Paulo e fui até Ubatuba.
Os dias lá foram bons. Joguei, inclusive, taco, aquele jogo sobre o qual escrevi há pouco tempo. Aliás, soube que o jogo tem outro nome mesmo. Continuo, porém, sem saber. Quem sabe meu amigo blogueiro Roberto Almeida até conheça...
No dia 24 encerrei um ciclo em minha vida, um destes que a gente sempre vive. Mas fica por aqui a informação. Se o encerramento foi bom ou ruim, ainda não sei. Tenho apenas a expectativa de que o novo seja melhor.
Quando cheguei por aqui vi novos comentários de novas pessoas. Fiquei feliz. Responderei em breve.

A outra história


19 de janeiro de 2006

Esta é a outra história que prometi escrever depois do post anterior.
O Francisco morava na Joaquim de Almeida. Era um amigo de escola e nossas casas eram próximas. Fazíamos juntos os trabalhos escolares, jogávamos bola, andávamos de bicicleta. O futebol de botão também foi um dos passatempos, mas ele não gostava muito porque sempre perdia.
Com nossas bicicletas fazíamos loucuras. Atravessávamos por entre carros em pleno trânsito, íamos parar longe. O Ibirapuera era nossa diversão, mas nossas mães nem desconfiavam disto. Para elas era muito longe e, logo, um perigo para dois adolescentes de bicicleta. Mas íamos.
Na época, dois de nossos colegas de classe eram o Walter e o João Roberto. Os dois fumavam. Além de fumar, eram os grandes da turma, daqueles que intimidavam os demais, e viviam com as meninas, brincando, de braços dados... Eram o sucesso. Eu cheguei a pensar que o cigarro era um símbolo de tudo aquilo, um tipo de marca. Os comerciais de TV também sempre mostraram o sucesso nos esportes, com as mulheres e na vida, para quem fuma.
Resolvemos, eu e o Chico, fumar. Experimentar, pelo menos. Depois de juntarmos algumas moedas, dinheiro de alguns lanches não tomados na escola, compramos um maço de cigarros e um isqueiro. De bicicleta entramos na Luiz de Bragança, Lilases e Napoleão de Barros. Atravessamos a Altino Arantes e a Onze de Junho. A próxima à esquerda era a Agostinho Rodrigues Filho, uma rua que embora grande, era meio pacata. Ali, logo na esquina, havia um imenso muro, algumas pequenas árvores, e seria o lugar perfeito para fumar sem sermos descobertos. Aquele lugar havia sido já estudado em nossas andanças de bicicleta.
Fumamos por um bom tempo. Não foi apenas um maço. Terminado o primeiro, compramos o segundo e mais alguns. Escondíamos o maço e o isqueiro ali mesmo, na rua. Havíamos arrumado umas pedras, montado um tipo de esconderijo, e ali ficavam os petrechos.
O engraçado de tudo é que só fumávamos nós dois, escondidos. Na escola não nos revelamos e não nos colocamos no grupo dos dominadores fumantes...
Depois passou. Esquecemos a aventura e voltamos a ser os bons meninos e bons alunos de sempre. Ah, mas os passeios de bicicleta por caminhos que ultrapassavam fronteiras continuaram!

A descoberta do fumo


19 de janeiro de 2006

Estava lendo o
Jornal do Blogueiro e me lembrei da primeira tragada.
Sei que não é todo mundo que experimenta o fumo, mas penso que muitos não-fumantes de hoje já experimentaram um dia. Ao menos para saber como é e o que é.
Lembrei da primeira tragada. Não sei que idade eu tinha. Talvez uns dez anos... Meu pai tinha um amigo e logo as esposas também se conheceram. Começaram a se reunir, se encontrar de vez em quando, estreitar os relacionamentos. Certo dia resolveram viajar juntos, mas agora não me lembro se para a casa da mãe do amigo ou se da amiga. O destino era Rio Claro.
A mãe (do amigo ou da amiga, não importa), tinha uma voz grave, uma expressão séria, mas conversava sem parar. E fumava. Não sei dizer quantos maços por dia, mas fumava muito. Era praticamente um atrás do outro e por ali, pela cozinha da casa, estava “sobrando” cigarros.
Eu resolvi experimentar. Arquitetei um plano. Verifiquei antes qual seria o melhor local, o melhor esconderijo para minha aventura. Pensei em como tiraria um cigarro e com o quê acenderia.
Tudo decidido, mãos à obra. Peguei rapidamente um daqueles branquinhos, uma caixa de fósforos e saí correndo. Tudo certo! Experimentei com calma, porém atento aos movimentos para que ninguém me descobrisse. Ah, a marca era Continental, o famoso “preferência nacional” (era o slogan).
Não fiquei apenas naquele primeiro. Em todos os dias seguintes que passamos lá eu roubei um cigarro...
Acabou a viagem e eu não fumei mais. Só mais tarde, poucos anos depois, mas esta é outra história que certamente também escreverei.

A aula e a prática



A aula
Eu era comprador de uma grande empresa varejista. O diretor, certo dia, chamou os compradores e deu a aula:
- Alguém chega e lhe oferece uma mercadoria a um custo extremamente vantajoso, vamos supor a R$ 100. Você, sério, olhe bem para ele e diga que paga R$ 20. É o que eu chamo de chutar a canela. Aí você, imediatamente, olhe o rosto do vendedor. Avalie a reação ao que você acabou de falar, ao seu chute na canela. Se a expressão for de espanto, indignação, significa que você chutou muito embaixo. Se a expressão não for de tanta dor assim será sinal de que você não está tão longe do que ele pode chegar para melhorar a oferta.
...
A prática
O calor em São Paulo, o abafamento, anda forte nos últimos dias. A corrida pela compra de um ventilador, ar condicionado, umidificador de ar ou qualquer semelhante está gigante.
Ontem, lá pelas 21h15, liguei para saber o horário de funcionamento de uma loja. Resposta: 22 horas. Eu tinha apenas 45 minutos. E a loja era longe. Saímos. Trânsito depois, chegamos às 21h50. Olhamos, perguntamos, vimos funcionar, nos interessamos.
- Ah, este eu não tenho em estoque.
- Ah, este outro acabou hoje. Vendemos mais de cinqüenta.
- Hum, este também não tenho.
- Este... só o do mostruário.
Bem, esta era a situação dos melhores modelos. Os pequenos, os de marca duvidosa, os de difícil uso imediato, eram os únicos disponíveis. Decidi levar dois ventiladores de teto e um convencional, de chão. Algumas conversas depois, sobre formas de pagamento, e a decisão mudou para apenas o de chão. Com mais calma, e já que os de teto precisariam de instalação, voltaríamos depois para comprar. O ventilador de chão que escolhemos era a única peça, a do mostruário. Avaliamos. O pé estava quebrado. Quebradinho, nada que comprometesse o seu ficar em pé e nem que fosse acabar de quebrar e cair.
- Qual é o preço?
- Está em oferta: de R$ 194 por R$ 179...
- Mas com esse pé quebrado você me faz um desconto, né?
- Faço! A gente pode ver...
- Mas quanto de desconto você vai dar? - perguntou a Clau.
- Ah, uns R$ 100 de desconto! - respondi, "chutando a canela".
- Tudo bem - disse o vendedor, dá pra fazer.
E saiu para o balcão para preencher um boleto de venda.
- Se ele vai fazer por R$ 79, bem que poderia fazer por R$ 50... - disse a Clau.
Fui até o balcão.
- Ô, Adilson, ela está dizendo que você bem que poderia fazer por R$ 50.
Eu tinha agora chutado o dedão do pé. O vendedor olhou a etiqueta do produto. Percebi que ali, no meio daquele monte de números e códigos, um deve revelar o custo da mercadoria. Ele olhou, pensou e respondeu:
- Ok.
Preencheu novo boleto de venda. Fomos ao caixa felizes. A loja já havia fechado e éramos os últimos clientes.
Agora, valeu ou não valeu praticar a aula?

Celso e o paladar


16 de janeiro de 2006.

Esta história já tem alguns anos, mas jamais esqueci. Basta sentar-se para comer e o assunto caminhar para "gostos" e eu me lembro.
Fui para o Rio de Janeiro a trabalho, visitar uma indústria brasileira. Eles, aliás, haviam comprado uma outra marca do mercado e constatado irregularidades junto ao Ministério da Saúde. Como gente séria que eram, trataram de retirar todos os recém comprados produtos do mercado, de todo o Brasil, até que conseguissem toda a regularização necessária.
Bem, mas não é este o assunto. Fui almoçar com o presidente da empresa, o Celso. É pessoa extremamente agradável, de bom papo, sorridente, bem humorado, e penso que não conheci este lado apenas por ser cliente. O cara é realmente assim. A comprovação foi feita quando observei a forma com que tratava seus funcionários. É um grande cara.
No almoço, em meio a pratos diversos, experimentei algo diferente. Comentei que gostara.
- Eu costumo dizer, e isto é pura observação minha, não é nenhuma regra, que começamos apurar nosso paladar após os 30 anos. Até esta idade deixamos de experimentar muitas coisas. Parece que continuamos a funcionar como as crianças: só de olhar já dizemos "não gosto". Depois dos 30 não! Pelo menos no meu caso. Eu comecei a experimentar muitas coisas, coisas que eu até nem imaginava. Comecei a descobrir sabores, diferenças, até diferenças sutis. Na minha opinião é aí, nos 30, que a gente começa a ampliar nosso paladar e gostar de mais coisas. É aí que a gente começa a aproveitar mais da vida...
Fiquei parado, ouvindo, pensando naquela coisa. Eu tinha lá meus 29 e talvez um pouco, meses antes, eu começara a experimentar novos sabores. Concordei com aquilo que o Celso dissera. Fiquei fascinado, na verdade. E jamais esqueci. Penso que é uma sabedoria, fruto apenas de observação.

Sherlock Holmes


13 de janeiro de 2006.

Descobrir coisas é fascinante.
Um funcionário da empresa anda telefonando para um disque-sexo. Segundo informações de nosso departamento jurídico, já não existem mais as linhas 0300, 0500, 0900 ou sei lá qual mais. Agora a ligação para este tipo de serviço é feita para uma linha de telefone comum, o prestador de serviços liga para o "consumidor", confirma seus dados e envia a cobrança. Eu não sabia disto. Penso que o funcionário também não sabe. Na cabeça dele, como se trata de uma linha comum, passará desapercebido na conta de telefone da empresa.
Bem, como alguém lá do serviço ligou para a empresa para confirmar, o funcionário está quase pego. Aí começaram as investigações. O responsável do jurídico ouviu a gravação do telefonema. Não indentificou a voz, mas sim o setor em que o sujeito trabalha. Faz-se necessário a comprovação. Depois de algumas horas, um computador foi instalado junto à central telefônica. É o chamado bilhetador: registra todas as ligações feitas e recebidas por cada ramal. Não, não grava a conversa! Mostra apenas os números de telefone de origem e de destino e o tempo da chamada. Agora é esperar o próximo contato.
...
Gosto desta coisa de investigação. Gosto de Sherlock Holmes. Os filmes de tribunais e julgamentos são os meus prediletos. Detetives, policiais, perseguição. É bom demais! O fim da história é que não é feliz para alguém. No caso do funcionário, nem preciso dizer... Parece que cada chamadinha de dez minutos sai pela bagatela de R$ 45,00.

A tal da libido (ou “A mulher é quem manda”)


11 de janeiro de 2006.

Segundo o Houaiss, libido: Acepções■ substantivo feminino 1. procura instintiva do prazer sexual; desejo Ex.: os devassos deixam-se levar pela l. 2. Rubrica: psicanálise. energia que está na base das transformações da pulsão sexual; energia vital, de acordo com as teorias de Freud 3. Rubrica: psicanálise. energia psíquica [Segundo as teorias de C.G. Jung, apetite.]
Etimologialat. libído,ìnis 'desejo violento, paixão'; ver libid-
Pois é. Não falarei das mulheres, apesar de minha segunda opção de título para este post ser "A mulher é quem manda". Mas tentarei me fazer entender.
Depois que o homem já tem sua vida sexual estabilizada, ou em outras palavras, definido sua pretensa única companheira, continua a ter sua libido. Para mim a libido é como uma bomba, ou uma granada como a da ilustração. Alguns (talvez poucos) conseguem manter a bomba quieta por mais tempo. A maioria, na minha humilde opinião, não. O tempo entre uma e outra detonada tem que ser curto. A mulher, porém, é quem manda na hora do sexo. Se ela não estiver no pique, homem, esqueça e guarde a bomba. O homem que, por outro lado, não tem sua vida sexual estabilizada, não consegue guardar a arma (para não repetir a palavra bomba). Este vai procurar onde possa ativá-la. É simples. Simples para o homem, mas a mulher não entende. E não estou aqui defendendo que deva entender, não! Ela está certa em nem querer ouvir explicações e desculpas. Segurar e guardar a bomba não é tão fácil assim. A masturbação é uma saída e até hoje não sei até quando os homens lançam mão dela. Até quando significa até que idade... É engraçado. E estou escrevendo sobre isto porque hoje, pela manhã, peguei meu filho de dez anos descobrindo a coisa. Escondeu-se rápido. E lembrei de mim mesmo. Este é um segredo que sempre fica e ficará guardado. Ê vontade de detonar a bomba! Ah, e quando explode é a melhor coisa do mundo!

Botcha?


10 de janeiro de 2006.

- E aí, Júnior, tá a fim de jogar botcha?
- Botcha? Eu não!
- É, botcha é chato, né?
Quando o cara respondeu isto à minha negativa, fiquei pensando o por quê de ter me convidado então. E continuei, tirando lá do fundo do baú:
- Prefiro taco!
- Taco?
- É, aquele que tem uma casinha e você tem que derrubar a do adversário e defender a sua... (fiz o gesto enquanto falava, como se estivesse com o taco na mão)
- Ah, esse é legal! Eu joguei quando era criança...
Fiquei pensando que aquilo deveria ser uma mentira deslavada. Se já jogou não sabe o nome? Taco é taco, não tem outro nome como pipa, papagaio, quadrado e etc. que se referem ao mesmo objeto. Além do que, o cara com quem eu estava falando é muito mais novo do que eu. Com certeza sua infância foi muito diferente da minha e sem muitas das brincadeiras que existiam na era anterior aos vídeo-games e semelhantes. Aí me lembrei, com o taco, de uma história. Resumi para ele:
- Uma vez, jogando taco, eu dei uma porrada tão forte na bolinha, que veio pingando, que estourei um fio da Eletropaulo...
- Olôco!
- A rua toda ficou sem luz... Não preciso nem dizer que o jogo acabou na mesma hora, né? Só foi vizinhos saindo para o portão para ver o que tinha acontecido.
É, a moçada de hoje nem sabe o que é isto. Pelo menos a moçada que mora em São Paulo (capital, claro!).

Meu amigo Paulo

9 de janeiro de 2006.

Fiquei pensando, depois de ler, que concordo mais do que plenamente com meu querido amigo Paulo. Pensei em publicar no meu espaço aquele texto, mas tive dúvida. Será que porque é ele um amigo, porque o conheço, porque está tão próximo? Depois pensei: mas que diferença há entre ele e outro escritor cujas palavras admiro? Bem, vai aí abaixo o texto, que também (e originalmente) é encontrado no inteligentíssimo, abrangente e culto http://www.baciadasalmas.com/. Obrigado, Paulo, por ter você por perto. Obrigado por me incentivar a sair da mediocridade.
"05.01.06

O infortúnio da especialização
Pense comigo
Guardo, sim, rancor. Uma das decisões mais injustas que tive de enfrentar me apertou quando, concluído o que hoje se chama Ensino Médio, tive de escolher um único curso com o qual me ocupar na faculdade. Aquele bendito manual de inscrição da UFPR, a ficha que preenchi e paguei no Banco do Brasil da Rua XV, exatamente no canto onde se postava a mulher que adverte tão sensatamente olhe a cobra. Eu era um jovenzinho muito certo da minha indecisão: se há algo que eu não queria fazer era me especializar em alguma coisa, cair de cabeça numa única “carreira”, por mais promissora que se mostrasse. Não que eu não me interessasse por nada; era exatamente o contrário. Meu sonho era encontrar alguma universidade renascentista que continuasse a me ensinar literatura, física, biologia, matemática e educação física ao mesmo tempo. Escolher uma única área de conhecimento me parecia ao mesmo tempo injusto, difícil e estúpido. A humanidade demorou muito antes de adotar a idéia infeliz, sugerida por alguma comissão, de departamentalizar o conhecimento. Os gregos especulavam com o mesmo ardor sobre a geometria, a música, a física nuclear, a pintura, a matemática, a retórica, a filosofia e a química. Nos milênios que se seguiram a pluralidade de interesses sempre caracterizou o homem de conhecimento. A meros dois passos do nosso próprio tempo, durante o Renascimento, não ocorreria a ninguém que se desse o respeito cair na armadilha da especialização. Sensato era Leonardo Da Vinci, que percorria com a mesma facilidade os terrenos da pintura, da biologia e da engenharia. Hoje em dia, como se sabe, tudo que há é especialistas. Não é à toa que quando estamos juntos só nos resta bater papo furado, já que fugimos apavorados diante da possibilidade de encarar qualquer coisa que não diga respeito à nossa estreitíssima faixa de terreno. Somos tão especializados que levaria mais tempo para explicar ao nosso interlocutor sobre o que estamos falando do que ele ou nós estamos dispostos a gastar conversando. E, como se não bastasse, o alvo de cada especialista é especializar-se ainda mais. Está dito: no que me diz respeito nada há de menos interessante do que a especialização, e o paradoxo está em que é com ela que ocupamos toda a nossa vida – ou nossa vida profissional (que é, naturalmente, a mesma coisa). Apesar de tudo, é fácil explicar a moderna paixão universal pela especialização: ela é o único caminho mais ou menos seguro para a contratação, e ninguém quer acumular o tremendo risco de não ser contratável. Buscamos ser especialistas porque é apenas com especialistas que, idealmente, queremos lidar. Gostamos de pensar que vivemos num mundo em que “você sabe do que está falando?” vale mais do que “você sabe com quem está falando?” Por outro lado, gastamos tanto tempo com as facilidades da vida moderna (como o trânsito), que sobra-nos pouco tempo para algo que não seja a especialização – e somente a nossa. Em retrospecto, todos os meus esforços foram e permanecem canalizados na minha luta pessoal e profissional contra a especialização – e incluo nesses esforços, perceberá o impenitente leitor, esta Bacia. Já me informaram que um blog que se preza não pode querer abraçar o mundo; pelo contrário, garantem-me a única maneira de escapar da invisibilidade na internet é a mesma em vigor fora dela: a especialização. Escreva por favor sobre qualquer coisa, mas não escreva sobre tudo – conselhos que me apresso, visivelmente, a desobedecer. Ao fim dos meus trabalhos, terei reivindicado talvez o direito inalienável de não ser rotulado. As pessoas que mais me intrigam (como o Ivan, como o infame Oliver Sacks, como o inesgotável Farah) são inescrutáveis, lisas como peixes, impossíveis de se classificar com alguma propriedade. Há aquela história de um homem que foi abordado na praça e alguém lhe perguntou o que ele era. Ele respondeu sou um homem. O interlocutor insistiu, perguntando o que ele fazia, de que se ocupava, o que ele era, e o sujeito apenas reiterou sua posição.

– Você não diz de um pássaro que ele é um cantor. Ele não é o seu ofício; ele é o que é. Um pássaro é um pássaro. Eu sou um homem.
Paulo Brabo"

2006




6 de janeiro de 2006.
Deixei um pouco este meu espaço, mas sem esquecer dele. Ando escrevendo muito, mas para um outro espaço, meu e da Clau, sobre nossa viagem a Natal (http://spaces.msn.com/members/viagens0).
É bom relembrar os dias que passamos lá. As fotos, porém, publicarei apenas quando estiver em casa já que não copiei os arquivos em CD. E são muitas fotos. Em uma semana de passeios cheguei a umas 1300. Muito para alguns, pouco para outros. Para quem já tirou 360 fotos em uma festa de aniversário infantil, num buffet, em apenas 4 horas...
É, pensando bem, para mim é pouco. Eu deveria ter chegado a São Paulo com mais de 3000. Mas está bom. Os dias foram maravilhosos.
Espero que nestes novos dias do chamado ano de 2006 eu ainda tenha muitos bons momentos.
A quem lê estas minhas palavras desejo o mesmo!
Beijo!

Nair


5 de janeiro de 2006.

Antes de qualquer outra coisa é preciso dizer: o que pode nos parecer pouco, pode ser muito para uma outra pessoa. O inverso também é verdadeiro.
Trabalhei muitos anos como comprador de perfumaria e em grandes empresas. Um dos meus fornecedores, na ocasião, era a Perfumaria Rastro e quem me atendia era a Nair.
Os produtos, antigos de mercado, pareciam percorrer uma curva doente, rumo à morte. Meu conceito sobre a Rastro é que tinha como consumidores a geração da minha mãe ou quase certamente mais do que isto, a da minha avó. Os produtos não se renovavam e muito menos existia qualquer campanha publicitária que tentasse reavivar a marca. Talvez a indústria nem tivesse "bala" para qualquer das duas coisas. O final da história só poderia ser mesmo a morte.
A Nair vinha periodicamente fechar algum pedido comigo. E eu, acompanhando o histórico de cada item no sistema, comprava. Na verdade eu praticamente apenas repunha o que havia vendido. Eram pedidos pequenos. A Nair reclamava e contestava. Dizia que a venda era pequena porque eu não tinha produtos no ponto de venda. E era assim todo mês.
Um dia eu olhei bem nos olhos da Nair e lhe disse:
- Faça o pedido. O que você acha que eu deveria comprar?
Depois de agradecer a oportunidade, colocou ali, naquele formulário, os números que julgava bons e disse que eu não me arrependeria. As vendas iriam crescer.
No encontro seguinte verifiquei que de fato houvera um crescimento. Dei a ela o formulário mais uma vez, e assim continuei fazendo.
No final daquele ano aquela minha cara senhora chegou com um presente. Explicou que não era uma lembrança da Rastro e sim dela, pessoal, e agradeceu. Eu a ajudara muito naquele ano. Eu dera a ela uma oportunidade e ela conseguira bons resultados.
Eu nunca mais esqueci desta história. O que era tão pouco para mim, foi muito para a Nair. E eu nem imaginava que tamanho tinha aquele gesto para ela, o que representava.
Quantas vezes não sei dimensionar minhas atitudes e não sei o valor que tenho para as pessoas... Quantas vezes as pessoas não sabem também o valor que têm para mim... Precisamos falar.
...
Ontem, depois de muitos anos, reencontrei a Nair. Conversamos. Foi bom revê-la.

Alpendres e parabólicas


3 de janeiro de 2006.

Durante a viagem a "Natal", fui descobrindo que o pacote fechado na agência de turismo só tem o nome "Natal". De fato, quando cheguei lá e decidi pagar para participar de um outro pacote de passeios, fui percebendo que o negócio se trata de conhecer o litoral de todo o Estado do Rio Grande do Norte. Fui do sul ao norte. Penso que aos principais pontos turísticos e que valem a pena ser visitados. É claro que não só o que vi é o que vale a pena. Devido ao tempo curto da viagem, os potiguares devem ter selecionado e escalado o que há de melhor para o turista. Assim devem fazer todos os demais Estados ou cidades.
Os ônibus que me levaram aos passeios, tanto para o sul quanto para o norte, passaram por várias pequenas cidades. Vi muita simplicidade, muita pobreza, muita plantação, muito pequeno comércio. Agora, se há algo que quer disputar a freqüência com os coqueiros é a tal da antena parabólica. São muitas! Em quase todas as casas, das mais humildes às nem tanto assim. Tomei informações e me disseram que os sinais de TV por lá são fracos. A antena daquele tipo, portanto, é necessário, caso o "cabra" queira passar o tempo com a TV. Mas fiquei impressionado. Até as casas de barro têm a parabólica!
Fiquei pensando que a vida por lá é pacata. Daí a necessidade de um entretenimento. Aliás, a vida por lá começa bem mais cedo e termina também bem mais cedo. Lá pelas dezessete horas parece que já começa a anoitecer. Está certo, é verão e lá não existe o horário de verão... Mas, de qualquer maneira, as pessoas devem jantar às dezessete e trinta. Foi a impressão que tive. Daí, alpendre. Alpendre é uma varanda, para quem não sabe. E são muitos. Muitos, muitos, muitos, muitos, muitos alpendres. Em cada um, umas três ou quatro cadeiras. Não que não se veja aqueles com apenas uma ou duas cadeiras, mas a maioria tem as três ou quatro. Alguns poucos ainda têm uma rede. E sabem onde não há os alpendres? Ou nas casas mais pobres, ou nas de classe média para cima. As mais pobres são aquelas de barro, por exemplo. Há outras de tijolo no mesmo modelo. Estas só têm aquela porta cortada ao meio, na horizontal, onde as senhoras se debruçam para ver o movimento da rua. Sobre as de classe média para cima, talvez fale em outro post.
As senhoras debruçadas recebem visitas. Sempre há lá uma vizinha que fica em pé, do lado de fora, para prosear. Nos alpendres as famílias se reúnem. Pais, filhos e netos. Três gerações. Quando há a terceira, fica brincando por ali, correndo de um lado a outro. Mas o que existe é conversa. Sempre a conversa antes da TV. E certamente é mais saudável. A família se conhece mais, compartilha seus cotidianos, se respeita mais, educa melhor.
Conhece casal que fica junto e nem troca palavra? Sim. Estes casos também devem acontecer nos alpendres. Apenas sentam-se ali, juntos, para observar a rua, as pessoas, dizer um “noite” (boa noite) de vez em quando. Depois um entra e vai dormir, outro entra e vai inventar alguma coisa pequena para fazer antes de ir descansar.
É uma boa vida (no melhor dos bons sentidos!).

Desastres


2 de janeiro de 2006.

Talvez eu não devesse colocar aqui pensamentos ruins, logo no início de um novo ano. Penso, porém, que os dias permanecem iguais, com seu mesmo caminhar, independentemente da contagem do tempo. A gente conta o tempo em horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios, mas os dias continuam seus passos sem sequer ligarem para esta contagem.
Andei pela rua há pouco. O trabalho, a pressa, as preocupações, os pedintes, as compras, as filas dos bancos continuam iguais. Tudo continua igual. O que há de novo, e logo são também esquecidos, são os planos, os objetivos, a vontade, a motivação. Estas coisas e semelhantes.
Voltando ao que talvez eu não devesse escrever aqui, foram pensamentos que tive durante minha semana em Natal. Parado em frente ao mar, observando as ondas e o horizonte comprido e calmo, lembrei do Tsunami. Eu revi, nas retrospectivas de 2005 que passam na TV, o que aconteceu há um ano. Talvez por isto eu tenha lembrado. E fiquei ali, vendo as ondas e imaginando uma gigante que viesse e cobrisse e invadisse todo aquele paraíso da praia, do hotel chique, da vida mansa. Impossível fugir. Desastre certo e incalculável, inimaginável, inesperado. Que coisa! Inexplicável. Explicável talvez por cientistas e estudiosos dos fenômenos, não para nós leigos e mortais.
Registro também meus pensamentos em relação ao World Trade Center. Sempre tentei imaginar as pessoas que, recém chegadas ao escritório para mais um dia de trabalho, nem tiveram tempo de pensar quando tomaram um avião na cara. Incalculável, inimaginável, inesperado também.
Cada coisa que acontece...Triste. Estranho. A gente não sabe o motivo, nem de onde veio, nem como, nem porque.
"Vida louca, vida breve...".

Coisas pequenas


24 de dezembro de 2005.

Não sou de briga, discussão e afins. Penso que normalmente elas ocorrem por coisas pequenas. Pois justamente ontem nos desentendemos. Vésperas de Natal e da viagem para Natal.
Merda. Coisas pequenas. Antes de dormir eu ainda disse algumas palavras, pedi perdão pela minha parte mal feita. Eu também erro, e quando erramos temos que saber, no mínimo, reconhecer. Mas a Clau não me respondeu. Espero que o novo amanhecer já traga a paz, a alegria, o bom humor.
Clau, eu amo você.

Expectativa


23 de dezembro de 2005.

Natal em Natal. A expectativa está grande. A hora de embarcar está chegando. São Paulo ficará para trás.
Ficarão as lembranças de 2005. E quantas coisas aconteceram!
Para fechar o ano, sossego. E que sossego! Sossego de cabeça, certamente. O corpo vai andar, correr, pular, suar, beber, comer, fotografar muito, demais, mais que demais, mergulhar, ouvir música, assistir TV, brincar na areia branca, gritar, rir, sorrir, abraçar, beijar, falar, olhar o céu e o mar, ver gente desconhecida e diferente, sentir calor, olhar o sol, tomar café da manhã pomposo, dormir, acordar, entrar debaixo do chuveiro, deitar na cama, fazer amor... Milhões de coisas! Difícil escrever. E escrever? Quem sabe? Talvez.
...
A todos desejo dias bons, dias felizes, boas notícias. Desejo alegria, mas aquela que vem lá de dentro, do fundo do coração. Desejo amor.
...
Não sei se ainda voltarei aqui neste 2005. Talvez não. As portas de 2006 já estão quase se abrindo...
Um beijo enorme!

O clima do final de ano


22 de dezembro de 2005.

Em todos os últimos anos, quando já passa de vinte de dezembro, sinto a mesma coisa. E é algo difícil de explicar. As ruas, antes do dia vinte e cinco, estão lotadas. Quando digo ruas é generalizando. Tudo, qualquer lugar, a qualquer hora, está em vias de entupimento. Bem, isto vale para São Paulo. Penso que em outros lugares minhas palavras até devem soar estranhas, difíceis de entender.
Embora haja muita gente circulando, porém, e cada um à sua velocidade e com suas particulares preocupações, sinto como que um vazio. Não sei porque, mas olho para o céu. Ele parece nublado. Mesmo que esteja absolutamente azul, parece não estar limpo. A troca de estações talvez influencie nestas minhas sensações. O clima é diferente. O ar parece carregado de preguiça para o trabalho. Para o trabalho! Não para as compras, ou para as festas, ou para as baladas, ou para qualquer outro entretenimento. Nos escritórios várias pessoas fazem nada, ou muito menos do que habitualmente. A gente ouve mais risada, vê mais grupinhos. Os almoços parecem mais demorados. Médico? Difícil marcar uma consulta. Eles também usam o freio nestes dias, diminuem o ritmo, descansam um pouco. As casas recebem toques e toques de campainha que pedem uma caixinha de natal. Carteiro, gás, leitores de água e luz, vigia noturno da rua, sei lá quem mais. Parece que as pessoas só pensam em parar. Parar e só pensar em todos os detalhes dos últimos dias do ano. O que fazer, onde ir, com o quê presentear e a quem, o que comer e beber, com quem combinar e o quê... Ponto. Clima do final de cada ano.
...
Nem sei se consegui escrever tudo que sinto e penso...

Zico sabe


22 de dezembro de 2005.

O ex-jogador Diego Maradona foi o centro das atenções em uma partida beneficente realizada na noite desta quarta-feira, no Rio de Janeiro. O argentino foi convidado de honra de Zico, o organizador da festa que aconteceu em seu centro de treinamento e teve a participação de grandes estrelas do futebol brasileiro.
...
Diante do grande comparecimento da torcida - segundo o comando do policiamento, havia 5 mil pessoas no centro de treinamento - Zico se mostrou feliz por trazer Maradona de volta aos campos.
"Acho que o futebol merecia ver esse jogador novamente em campo e fico muito feliz de tê-lo recebido no meu centro de treinamento. Só quem acompanhou a carreira dele de perto sabe tudo o que fez. Ele não poderia ter encerrado a carreira daquele jeito em que estava", disse Zico.

Magra?


21 de dezembro de 2005.

Desde não sei quando exatamente, penso que desde a adolescência, ouço a expressão "falsa magra". Naquela época eu não entendia e ainda permaneci sem entender por um bom tempo. Quando ganhamos olhos de adulto, malícia em outra palavra, a gente começa a entender.
Magra, magra mesmo, só tive duas namoradas até os meus vinte e poucos anos. Simones. Duas, dentre xis, é pouco, pouquíssimo. Meu gosto não seguia as magras.
Meados de minha quarta década, encontro meu amor. Magra. Falsa magra. Fiquei tentado, agora, a explicar o que entendo ser o significado da expressão, mas não farei. Entenderão apenas homens, e poucos.
Encontrei uma no Santander, certo dia. Vez ou outra vejo-a novamente. Deve trabalhar por perto de onde eu trabalho. Um dia voltei para olhar. Não chama a atenção de noventa e nove em cem. Mas é interessante, bonita, charmosa. Lembra-me outra expressão: por trás daqueles óculos... Fantasia.

Essa galera!



21 de dezembro de 2005.

Foi a criançada que inventou.
- Vamos fazer um amigo secreto?
Estávamos eu e a Clau de adultos e seis crianças.
- Como? Vocês têm que perguntar para a mãe de vocês se podemos. Não são elas que vão comprar o presente?
- Amigo secreto de DVD!
No dia seguinte todos já tinham a resposta positiva. Fizemos a lista de títulos que cada um gostaria de ganhar.
Foi ótimo! O melhor de todos os zilhões de amigos secretos de que participei antes.
A criançada é divertida e ansiosíssima. Embora nós, adultos, já soubéssemos de quase tudo antes da revelação, foi muito bom. E tinha que ficar guardado aqui, de lembrança.

Últimas

19 de dezembro de 2005.

Os últimos dias foram diferentes. Estivemos, eu e o Rafa, mergulhados em dois trabalhos diferentes. Buscamos imagens e música, gravamos, editamos. Diferente. Mergulhar talvez seja a melhor palavra mesmo. Saímos da superfície. O que aconteceu na terra não nos disse mais respeito. O engraçado é que quando retornamos, parece que tudo é novo. Parece que o mundo deu voltas e a gente fcou para trás. Até as idéias parecem ficar atradadas.
...
Nossa casa ficou linda. Depois das reformas e da chegada dos móveis, ficou linda. Sinto não poder curtir muito. Meu tempo ali é pequeno e quando teoricamente eu poderia ficar em casa, saímos. Mas estou feliz. Estamos, eu e a Clau, felizes. As pessoas também parecem gostar. Demonstram, falam, voltam. E ainda não fez um mês que começamos a morar.
...
Hoje, quando finalmente voltei a este meu blog, fiquei feliz de encontrar comentários nos meus dois últimos textos. Obrigado a vocês, que lêem.

Tilt


9 de dezembro de 2005.

Eu sempre fui muito ruim para guardar o tempo. Quando conto um caso, não sei se aconteceu há três meses, seis, nove, um ano, dois ou cinco. Ruim mesmo! Às vezes consigo apenas dar uma idéia de quando foi.
Hoje pela manhã, quando saía de casa para o trabalho, ouvi:
- Garafirôôôô!
Há quantos anos eu não ouvia isto! Comecei a trabalhar em meus arquivos: desde quando eu já não ouvia aquilo? Procurei, procurei, procurei, e nada! A memória não tem o registro. Parou de funcionar. Um "tilt" mesmo! Depois que travei no tempo, comecei a pensar na profissão do sujeito que gritava. "Garafirô" é garrafeiro que, se não me falha a definição, é um homem que compra e vende garrafas. A única coisa que lembro é de ouvir um cara destes na minha infância, no tempo em que as garrafas de vidro eram mais comuns, na verdade únicas. Não existia as de plástico, as embalagens pet, as caixinhas longa vida. Plástico era material com o qual se fazia outras coisas, não garrafa.Voltando ao garrafeiro, fiquei pensando que seu negócio deve ir de mal a pior. Aliás, seu carrinho estava vazio. Mesmo considerando-se que era cedo ainda, o carrinho não deve se encher muito. Engraçado. E a palavra ficou ainda ecoando em minha mente, trazendo lembranças de não sei que tempo:
- Ôôô, garafirôôôô!

Preguiça dá prejuízo


9 de dezembro de 2005.

Eu estava trabalhando em minha mesa. Precisei de uma borracha. Minha mesa fica de frente para uma outra, mas na diagonal. Não sei se dá para entender.
- Me empresta a borracha? Pode jogar!
Quem me emprestou estava fazendo um cartaz, usando pincel e tintas, vermelho e azul. Estava com dois copinhos de tinta. Peguei a borracha que veio voando. Usei.
No momento de devolver a borracha eu poderia:
1) levantar-me do meu lugar e colocá-la onde estava.
2) chamar o dono do objeto e jogar para ele de volta.
Não fiz. A preguiça prendeu-me à cadeira e meu cérebro não comandou a língua. Simplesmente joguei a borracha de volta, mirando a mesa. Ploft! Se eu tentasse mais uma vez, mais dez vezes, não conseguiria acertar no copo com a tinta vermelha. O "ploft" fez voar tinta para todos os lados. Prejuízo: uma borracha, um cartaz, uma camisa e uma calça, estas últimas do meu amigo.
- Devo a você uma camisa e uma calça.
- Não! Esqueça isto!
- Não! Devo sim! E vou pagar!
- Só se sua resposta à minha pergunta for diferente de "não". Foi de propósito?
- Não, mas não posso lhe causar prejuízo. Eu aprendi assim.
- A Adriana concordaria comigo. Não deixaria você pagar...
- E minha mãe concordaria comigo!
Conclusão: não levantar da cadeira e não abrir a boca me custou um dinheiro razoável

Mortos


8 de dezembro de 2005.

- Você sabe quantas vezes eu andei por um cemitério atrás de um caixão?
- Quantas?
- Esta é a segunda.
- Qual foi a outra?
- Meu primo. Lá no Rio.
Enquanto ocorria o sepultamento fiquei olhando as pessoas. Fiquei olhando as árvores e suas folhas verdes que balançavam muito com o vento frio. O fim de tarde estava cinza. A gente pensa na vida e na vontade de viver. Pensa em quanto se estraga, minimizando o tempo de chegar até ali. Quanta merda a gente faz. E quantas coisas boas também. Quantas lágrimas derramamos e quantos sorrisos demos. Vi apenas uma lágrima dos olhos orientais do meu amor. Olhava para o Mateus, o filho de três anos que ficou. Quase podia ler seus pensamentos...
...
- Você viu sua namoradinha?
Nem respondi. Ela continuou:
- Ela cumprimentou você?
- Nem eu a ela...
Revi Viviane. Nem olhei muito. Nossos olhos apenas se cruzaram por dois segundos, talvez três. Mas foi como se não nos conhecêssemos. A borracha passou por cima. Percebo que para ela tudo foi um nada. Para mim, onde restava arrependimento e algumas poucas lembranças, está vazio agora. É mesmo como se os dias não fizessem parte da história, como se nem tivessem existido. Mortos. Como muitos daquele cemitério.

Aniversário do Papai Noel


8 de dezembro de 2005.

Eu queria ter escrito no dia 6, mas foi impossível.
Foi o aniversário do Papai Noel. Ao menos do meu Noel.
Ele perguntava a cada sobrinho o que gostaria de ganhar no Natal. Satisfazia a todos. Via a sala do meu avô coberta de papéis de presente e ouvia aquela poluição sonora típica de várias crianças com vários brinquedos. Sorria. Ficava feliz mesmo!
Lembro-me que ele às vezes se atrasava. Todos já estavam reunidos e nós, crianças, ansiosos por sua chegada. Contava-nos depois que voara pela Dutra. Ele vinha do Rio até Juiz de Fora sozinho e "a milhão". Eu e o Renato orgalhávamo-nos disto.
Penso que desde 80 ele não mais distribuiu presentes.
Liguei para ele no seu aniversário. Ele parecia estar com pressa ou sem vontade de falar. Fiquei um pouco triste. Ouvi sua voz por apenas alguns segundos.Talvez ele esteja chateado. Andou reclamando, tempos atrás, que nenhum dos sobrinhos lhe dava mais atenção. Parecia frase da minha avó. Será que quanto mais os anos passam, a gente fica mais carente? Penso que sim. E observo também.
Bem, meu Noel, eu amo você!

Seu aniversário


1º de dezembro de 2005.

Amor,
o dia amanheceu com um lindo sol, já quente, para comemorar o seu aniversário.
Eu sei que cada novo entrar de dezembro será assim através dos anos.
Mesmo que lá fora haja frio, meu coração estará quente, em pleno verão.
Eu descobri o seu amor. Eu descobri você.
Como o calor que preenche a estação, você me preenche com seu olhar, com seu sorriso, com suas brincadeiras, com seus desejos...
O calor do seu amor é gostoso, é contagiante. Chega cheio de alegria, e ela me invade. Extravasa pelos poros.
As pessoas que me vêem hoje sentem a diferença. Algumas já até falaram dela a você. E eu estou feliz. Mesmo feliz!
Eu amo você! Amo estar com você! Amo ter você comigo!
Parabéns por mais um ano.
Eu desejo que seus novos dias sejam cada vez mais brilhantes.
E comigo!
Um beijo!
Júnior

Gracinha nojenta


28 de novembro de 2005.

- Você encontrou a Deborah?
- Não!
- Ela veio procurar por você enquanto você almoçava...
- A da ...?
- É, aquela gracinha nojenta.
- Gracinha nojenta...
- É! Ela é uma gracinha, mas nojenta!
E quantas pessoas não são assim... Sabe, aquelas que se acham?

Mesquinho


28 de novembro de 2005.

Segundo o Houaiss, uma das definições de mesquinho é demasiadamente agarrado a bens materiais, a dinheiro; não generoso; avaro, sovina.O mesmo dicionário nos informa que um dos significados de sabotagem é danificação propositada de estradas, meios de transporte, instalações industriais, militares etc., para a interrupção dos serviços.
Pois é. Ainda não tenho provas, mas fui vítima de uma sabotagem, obra de um mesquinho. Por causa de trinta reais por mês!?
Se ficar confirmado o que imagino, vale ao leitor saber que mais sinônimos de mesquinho cabem à pessoa: "que carece de grandeza, de magnanimidade. Que demonstra estreiteza de espírito e de visão."
Como pode haver gente assim? E o pior talvez seja ser duas caras, aqueles famosos "um na sua frente, outro nas suas costas".
Que raiva!

Texto do blog Duas Fridas


26 de novembro de 2005

“... quantas mulheres sofrem em silêncio, por motivos que me doem só de pensar: medo, humilhação, insegurança; por acharem que é isso que elas merecem, por não acreditarem que existe outra forma de serem amadas.” Texto do blog Duas Fridas
Penso, desde a minha adolescência talvez, sobre este sofrimento em silêncio.
Conheço mulheres que abriram mão de suas vidas, de seus objetivos, de seus gostos, por causa de um homem. Já ouvi uma voz amargurada contando como aconteceu e imaginando, triste, como seria se houvesse trilhado um caminho diferente, o caminho que originalmente havia traçado.
O sofrimento calado não é fruto apenas da violência física. Há a violência emocional. Existem tesouras que cortam sonhos pela metade, ou lá no início.
Convivo com mulheres que vivem esta realidade. E continuam com seu dia-a-dia. Vivem presas a um cotidiano medíocre. Perdem alegrias, perdem amizades, perdem lazer... Perdem. Parece que têm uma coleira, como os cães de madame. Vivem na dependência. Como sugere também o texto do Duas Fridas, a verdade é que existe outra forma de serem amadas. Penso que o difícil é encontrar aquele que lhes dará este presente. Mas “aquele” existe. Eu, ao menos, acredito, porque tento ser um. Penso que homem e mulher merecem ser felizes.

Bombas e vírus

23 de novembro de 2005.

Um amigo contou hoje.
- Tio, eu estava jogando campo minado e de repente apareceu um monstro com a boca sangrando! Parecia o Shrek, mas com umas orelhas pontudas! Eu fiquei com medo e desliguei o computador!
- É um vírus, Vítor!
- Mas eu acho que as bombas do campo minado mataram ele!
O que é a imaginação de uma criança...

Coisas do comércio II


23 de novembro de 2005.

Outro dia fui com um amigo lá na avenida Faria Lima. Ele foi trocar uma câmera digital que havia comprado. Era pouco depois da hora normal de almoço, mas eu não havia comido. Enquanto ele entrou na loja, entrei numa ao lado que vende pizzas. Olhei, escolhi, pedi.
- E para beber?
- Uma Coca de 600 (ml).
- Não pode.
- O quê? Não pode por que?
- Coca de 600 só na compra de um Combo. Temos estes aqui...
- Não quero nem ver! Então me veja uma Coca em lata.
Passou algum tempo enquanto eu esperava a pizza ficar pronta. Enquanto isto eu tratei de acalmar meus ânimos para não falar um monte de bobagens ao funcionário que me atendeu. Eu já havia sido mal-educado quando respondi que não queria nem ver as opções de Combo.
- Ô, meu amigo, quem determinou que a Coca de 600 é só com Combo? O dono?
- É. Muita gente reclama, mas a gente não pode fazer nada...
- Que burrice!

Coisas do comércio


22 de novembro de 2005.

A loja está ali, perdida em meio de muitas, calçada afora. Coisa pobre. Paredes mal cuidadas, iluminação fraca, chão sujo, mercadoria jogada, espalhada ou sei lá. Agora, a fachada... Nem um totem, ou back-light, ou ... Apenas uma faixa! E que faixinha, hein?
Fico pensando: vale a pena ter um negócio deste? Será que fatura? Será que paga seus próprios custos? Bem, se pergunto sobre isto, imagino que lucro é nem pensar...
Sem mais comentários. Cada um com seu mundo, cada um com seu negócio, cada um com sua cabeça.

quarta-feira, maio 16, 2007

Quase pronto


22 de novembro de 2005.

Ontem, vinte e um, dormimos pela primeira vez na nova casa. Quase tudo pronto, depois de dias de trança-trança, sujeira, montagens, instalações, pó, tinta e muitos outros substantivos e adjetivos.
Casamos ontem. É engraçado dizer isto porque no coração já existia a união. É engraçado também porque não existe papel, justiça, lei, igreja. É simplesmente um morar debaixo do mesmo teto, se ver todos os dias, compartilhar mais momentos do que até então.
Estamos felizes. Ficaremos ainda mais depois dos acabamentos e peças que faltam. Mas já estamos muito felizes.
É bom ter nosso espaço. É bom quando a gente se sente bem no nosso espaço. É bom ter um lugar aconchegante e corações próximos.
Diferente da música do cento e sete, só não vai ser preciso inventar de novo o amor...

Chuva!




19 de novembro de 2005.
Logo que saí do trabalho ontem e entrei no carro, começou a chuva. Chuva até que forte, daquelas que começa e termina rápido.
Enquanto dirigia vi um homem cobrindo a cabeça, andando rápido pela calçada. Eu sempre achei engraçado a cena. Por que cobrir a cabeça se todo o corpo se molha? Que sentido há nisto? Se há um guarda-chuva na mão é até normal. O guarda-chuva cobre uma parte maior do corpo e a gente molha, no final das contas, só a parte de baixo das pernas. Se bem que depende da chuva... Se for daquelas com vento nem o guarda-chuva ajuda.
Lembrei de quando eu era adolescente e jogava futebol na rua. Futebol não era só o que fazíamos. A turma era grande e brincava de queimada, esconde-esconde, futebol de botão... Às vezes até pegávamos um gravador e brincávamos de rádio. Fazíamos toda a programação com notícias, música, comerciais. Tudo falado e cantado por nós, com um violão a tiracolo.
Bem, voltemos à chuva. Quando adolescente, na época destas brincadeiras, eu adorava tomar chuva. Como é bom abrir os braços e receber a chuva! Como é bom correr na chuva, jogar na chuva, grudar a roupa no corpo!
Certa vez, não na rua, numa quadra escorregadia, jogávamos futebol, um dois contra dois com gol valendo só dentro da área. Numa bola que foi lançada e eu não alcançaria, não tive dúvida: me joguei no chão para chegar na bola e fazer o gol. Quase quebrei a perna. Bati com força no concreto que era a base da cesta de basquete.
É, eu adoro tomar chuva. Guarda-chuva eu detesto carregar. Quantos já perdi, quantos já esqueci em algum lugar.
No iníco do texto eu havia saído do trabalho e entrado no carro. Tudo o que escrevi passou pela minha cabeça. Quando cheguei ao meu destino, em casa, não tive qualquer pressa de descer do carro e abrir o portão. Tomei chuva! Por apenas três ou quatro metros de caminhada, mas tomei! Que delícia!

Diferentes humores


18 de novembro de 2005.

Não! Não me refiro a acordar de bom ou mau humor.
Vejo que cada pessoa tem seu próprio humor e cada um é diferente do outro.
Um amigo recebeu uma piada por e-mail e riu, riu muito. Acabou com o ambiente sereno da sala de trabalho e, pior, ninguém entendeu nada! É claro que a curiosidade já pediu: "Mande para mim!" Recebi. Li. Não encontrei onde estava a graça.
Aconteceu o contrário também. Eu quase passei mal de rir, noutro dia, e o cara ao lado sem entender porque eu ria tanto. Para ele não tinha a menor graça.
A mesma coisa é engraçada para uns e completamente sem-graça para outros.Às vezes os humores contrários até que se encontram...
É interessante o humor de cada um. É interessante a motivação de cada um, que também varia...

segunda-feira, maio 14, 2007

Publicado hoje pela UOL


16 de novembro de 2005.

Publicado hoje pela UOL:
Revista elege Bill Clinton como o homem mais influente do mundo

NOVA YORK (Reuters) - O ex-presidente norte-americano Bill Clinton é "o homem mais influente do mundo", segundo a revista Esquire.
A publicação elegeu-o como "o mais poderoso agente de mudança no mundo" apesar de Clinton não ocupar um cargo eletivo.
A revista fala das realizações de Clinton em sua edição de dezembro, que elegeu os melhores e mais brilhantes homens e mulheres do mundo.
Desde que deixou a Presidência, em 2000, Clinton tem estado tão ativo que sua vida parece um "terceiro mandato", de acordo com a revista.
A Esquire ressaltou o trabalho do ex-presidente com assuntos que vão de Aids, pobreza, aquecimento global à recuperação das nações atingidas pelo tsunami de dezembro.
Para o editor David Granger, Clinton deve se tornar "algo como um presidente do mundo ou ao menos um presidente das organizações não-governamentais do mundo".

Mundo oculto III


14 de novembro de 2005.

Determinado assunto rolava quando o amigo comentou:
- Às vezes vejo vultos ao meu lado.
- Eu também vejo...
- Aparecem de algum de seus lados especificamente? Para mim, estão sempre à esquerda.
- É. Normalmente à minha esquerda, mas não sei o que significa.
- São entidades que protejem você, que cuidam de você, que olham por você.
- Mas se é isto, por que ficam tão longe?
- Ah, você não os vê ao seu lado?
- Não! Estão a dois, cinco metros de distância. E logo somem. Só vejo de relance, muito rápido. São como aquelas visões do menino do filme O Sexto Sentido.
A resposta do amigo foi um franzir de testa e um levantar de uma das sobrancelhas...
Acontece comigo de vez em quando. Sempre, eu acho, estou de cabeça baixa, lendo ou escrevendo algo.

Mundo oculto II


14 de novembro de 2005.

Eu passeava muito quando era criança. Saía com minha mãe, com minha avó, com meu avô. Os passeios, muitos deles, eram de consumo e não de puro lazer. Lazer mesmo era ir ao Morro do Imperador, ao Clube Caiçaras, ao campo do Grambery. Todos estes passeios eram com o avô.
Com minha mãe ou minha avó lembro-me de ir até a feira, rua onde morávamos abaixo. Passávamos pelo quartel e eu adorava ver os sentinelas fardados e armados. Na época dizia que queria ser soldado quando crescesse.
Bem, tudo isto são apenas lembranças.
Quando eu saía, a qualquer dia, em qualquer lugar, muitas vezes via cenas que pareciam uma repetição na minha vida.
Às vezes via determinada pessoa e já sabia o que ela falaria ou o que faria momentos depois. Eu antevia a cena. Porque já existia em minha memória. Foram muitas vezes. E eu me sentia mal com aquilo. Era como se fosse um mal-estar momentâneo. Passava logo.
Depois de alguns anos em que já vivia estas experiências, passei a chamá-las de "d. r." ("dia repetido"). O mal estar jamais cessou. Eu jamais entendi o que era ou o que foi aquilo.
Hoje, há muitos anos, já não vivo mais estas coisas. Sumiram sem dar maiores explicações.

Mundo oculto I


14 de novembro de 2005.

Não me lembro qual era a minha idade.
Minha mãe colocava-nos para dormir e, na época, éramos somente eu e o Haroldo Luís.
A luz se apagava e meu irmão logo pegava no sono.
Eu ficava ali, olhando o teto escuro. A escuridão, porém, não era total. Eu via transeuntes no ar. Vários. Muitos.
Não me lembro de ter medo. Também não ficava tranqüilo. Vencido pelo cansaço, dormia.

14 de novembro de 2005.

Foi difícil achar a foto. Fica até parecendo que foi censurada... Será? De nada duvido, já que a cena foi ridícula para aquele a quem chamam de o homem mais poderoso do mundo.
Obrigado, Cadu, por encontrar a foto. Obrigado pela força!

"Não dá pra ver!"


12 de novembro de 2005.

Depois que contei aqui sobre a loirinha do ponto de ônibus e minha amiga de blog Andreia fez um comentário sobre a paixão platônica, resolvi escrever outra.
Há três dias fui conversar com o velho. Ele sempre conta histórias, muitas com lições de vida. Aprendo muito. Até anoto coisas sem que ele perceba.
Voltando à conversa, embora o assunto fosse completamente outro, ele contou uma das suas. Quando jovem, bem jovem, achava linda uma atriz japonesa. Sempre que via um cartaz com seu rosto ficava ali a admirar. Certo dia, quando teve condições, resolveu entrar naquele cinema para assistí-la. Sempre passava por ali, mas pouquíssimas vezes pudera entrar por falta de dinheiro. Naquele dia entrou. O filme começou. Quando "ela" apareceu na tela, ele fechou os olhos. "Me toca demais! Não dá pra ver!", era o que palpitava em seu peito.
Após contar, perguntou se eu já sentira algo parecido. Antes que eu respondesse, já foi dizendo "acho que não, né? Acho que isso é uma coisa minha, que sempre fui muito tímido..."
Engano. Eu respondi que já sentira sim, aquilo. Também tenho alguém, na minha história, que me deixava completamente desconsertado e sem rumo. Eu não conseguia ficar olhando e também não conseguia continuar trabalhando. Fingia, apenas, que estava ocupado com alguma coisa. Mas a concentração fugia. Não conseguia fazer mais nada enquanto ela não fosse embora dali. Paralisava. Desestruturava. Não dá nem para explicar. Só quem já viveu algo parecido consegue entender.
"Não dá pra ver!"
Que coisa! Que sensação! Que sentimento mais louco! E não era coisa de adolescente... Idade de adolescente, pelo menos, eu já não tinha.
Confessei a um amigo. E ele não entendia o que era aquilo. E ria de mim.
...
P.S. "Velho" pode parecer pejorativo. De fato, muitas pessoas usam a palavra desta forma. Aqui não é o caso. "Velho", para mim, merece respeito e carinho. O mesmo respeito sobre o qual escrevi em relação a meu pai, posts atrás.

Muhammad Ali versus Bush


11 de novembro de 2005.

Sem buscar qualquer adjetivo para George Bush que traduza o que penso a seu respeito, preciso registrar aqui a cena, no mínimo engraçada, transmitida pelo Jornal da Globo.
Aliás, vai o texto divulgado no site Globo.com:
"Criticado por começar sem motivos a guerra do Iraque, o presidente americano George Bush deu provas de que às vezes não sabe mesmo que briga está comprando. O homem mais poderoso do mundo brincou de trocar golpes com o homem que já teve o soco mais poderoso do mundo, o ex-campeão dos pesos-pesados, Muhammad Ali. Bush entregava condecorações aos cidadãos que se destacaram nos campos dos esportes e das artes, das ciências, da educação e dos negócios. Após entregar a medalha da liberdade a Muhammad Ali, Bush colocou-se em posição de combate. Imediatamente, o ex-lutador, que sofre do mal de Parkinson fez um gesto de que o presidente só poderia estar maluco para convidá-lo para um duelo. Ali voltou sorrindo para seu canto, como fez com muitos adversários que enfrentou."
Comentário:
Pareceu, a quem viu, que Ali estava chamando Bush de idiota, bobalhão, sei lá! A cara de sem-graça feita pelo presidente foi o máximo! Ficou desconsertado.Viva Ali!
P.S.: não encontrei foto satisfatória na Internet sobre o ocorrido. A que está aí não mostra os dois. Tirei uma direto da TV, ontem, e quando puder publicarei aqui.