segunda-feira, maio 14, 2007

"Não dá pra ver!"


12 de novembro de 2005.

Depois que contei aqui sobre a loirinha do ponto de ônibus e minha amiga de blog Andreia fez um comentário sobre a paixão platônica, resolvi escrever outra.
Há três dias fui conversar com o velho. Ele sempre conta histórias, muitas com lições de vida. Aprendo muito. Até anoto coisas sem que ele perceba.
Voltando à conversa, embora o assunto fosse completamente outro, ele contou uma das suas. Quando jovem, bem jovem, achava linda uma atriz japonesa. Sempre que via um cartaz com seu rosto ficava ali a admirar. Certo dia, quando teve condições, resolveu entrar naquele cinema para assistí-la. Sempre passava por ali, mas pouquíssimas vezes pudera entrar por falta de dinheiro. Naquele dia entrou. O filme começou. Quando "ela" apareceu na tela, ele fechou os olhos. "Me toca demais! Não dá pra ver!", era o que palpitava em seu peito.
Após contar, perguntou se eu já sentira algo parecido. Antes que eu respondesse, já foi dizendo "acho que não, né? Acho que isso é uma coisa minha, que sempre fui muito tímido..."
Engano. Eu respondi que já sentira sim, aquilo. Também tenho alguém, na minha história, que me deixava completamente desconsertado e sem rumo. Eu não conseguia ficar olhando e também não conseguia continuar trabalhando. Fingia, apenas, que estava ocupado com alguma coisa. Mas a concentração fugia. Não conseguia fazer mais nada enquanto ela não fosse embora dali. Paralisava. Desestruturava. Não dá nem para explicar. Só quem já viveu algo parecido consegue entender.
"Não dá pra ver!"
Que coisa! Que sensação! Que sentimento mais louco! E não era coisa de adolescente... Idade de adolescente, pelo menos, eu já não tinha.
Confessei a um amigo. E ele não entendia o que era aquilo. E ria de mim.
...
P.S. "Velho" pode parecer pejorativo. De fato, muitas pessoas usam a palavra desta forma. Aqui não é o caso. "Velho", para mim, merece respeito e carinho. O mesmo respeito sobre o qual escrevi em relação a meu pai, posts atrás.