sábado, abril 28, 2007

Pai


26 de outubro de 2005.

Já coloquei textos aqui, no meu blog, sobre pai. Já falei muito pouco sobre o meu.
Na verdade, (como sempre não me lembro bem de datas) há um tempo atrás, mais de um ano certamente, cheguei para o meu pai, do nada, e disse:
- Sabe, pai, hoje eu vejo o quanto eu não entendia a profundidade do que você me dizia. Quantas coisas você me disse e eu não consegui entender. Quantas coisas eu poderia ter feito da maneira que você me orientou e eu não fiz, acabei fazendo do meu modo. Eu estaria melhor hoje. Mas eu não entendia a profundidade das suas palavras...
Meu pai parou, meio assustado, com aquela cara de quem não estava entendendo bem o que eu dizia, e perguntou:
- Como assim, meu filho?
- Vamos ver se consigo explicar: pensemos em uma criança que está aprendendo a andar. Ela começa a descobrir o mundo e quer logo aumentar seu espaço. Começa a querer subir, por exemplo, num sofá. O pai, vendo aquilo, logo diz ‘não suba aí porque você vai cair’. A criança não entende que o pai está enxergando além do que ela vê. E sobe. E cai. E machuca. No dia seguinte acontece o mesmo e talvez ainda uma terceira ou quarta vez. Aí a criança aprende, depois de ir e se dar mal. A criança não entendia a profundidade daquelas palavras ditas pelo pai. Experimentando, começou a entender um pouco mais...
Meu pai continuou com uma cara de quem não estava entendendo. É, talvez estivesse entendendo um pouco, apenas um pouco do que eu dizia.
- É mais ou menos isto. Nós, filhos, até quando adultos, muitas vezes não entendemos o que o pai fala. A gente ignora que ele viveu mais do que nós e experimentou muito mais da vida do que nós. E sempre será assim. Hoje eu entendo e enxergo isto. Hoje eu respeito muito mais o que você me diz, e se não estiver de acordo com o que penso, penso mais vezes, mais duas ou três vezes. Talvez você, e não eu, esteja certo.
Acho que meu pai entendeu.