quinta-feira, abril 26, 2007

O Meu Pipi


25 de outubro de 2005.

Mario Prata, revista Época

Um português abriu um blog na internet. Não sabe o que é um blog? Pergunte ao seu filho. Chamado O Meu Pipi. Uma editora (séria) portuguesa achou o lusitano pipi e o transformou em livro. Uma editora brasileira sentiu o cheiro do sucesso (oitava edição, mas de cinqüenta mil livros vendidos, lá) e vai lançar o pipi entre vocês.
E o que eu tenho a ver com o pipi português? É que me chamaram para traduzir, para transformar o pipi português em pipi brasileiro. A senhora acha que todos os pipis do mundo são iguais? Ledo engano. Há de se traduzir. Por exemplo? A senhorita sabe o que é cona? Panasca? Pila? Paneleiro? Tirar os três? Pois, pois. E broche, minha amiga, posso lhe garantir que não é “jóia ou bijuteria provida de um alfinete longo ou de um alfinete com fecho, que se usa geralmente ao peito para prender e/ou enfeitar uma peça de vestuário”. Não, não é nada disso.
Mas eu não estou aqui para falar da tradução em si, apesar de poder adiantar que trata-se de sacanagem pura, maravilhosamente bem escrita, pelas páginas da internet.
O que eu quero falar hoje é sobre os blogs. Se não sabe o que é blog, pergunte à tua avó.
Há quatro anos venho dizendo para os donos das editoras brasileiras (editoras de livros de papel) que o futuro da literatura está na internet. A quantidade de sites e blogs pessoais – só no Brasil – passa de 20.000 segundo cálculos cá meus. Se as editoras contratassem um especialista em internet para ficar fuçando lá por oito horas do dia, teriam uma surpresa tão boa quanto O Meu (dele) Pipi.
Quando a minha geração começou a escrever, mostrava os textos para um primo, um poeta local ou simplesmente guardava na gaveta. Quantos e quantos escritores da minha idade não ficaram no meio do caminho?
Hoje, não. O sujeito coloca tudo que escreve na telinha, cria sites e blogs com a maior facilidade. E, ali, fica exposto à visitação pública. Poderia aqui citar mais de dez blogs brasileiros que estão merecendo virar livro de papel, mas não vou fazer isto. As editoras que entrem no século vinte um e se virem.
Vejo mães e pais preocupados porque o filho ou filha ficam seis horas por dia na internet. Relaxem, meu amigos. Tudo que ele vai ver é um pouco de pornografia e depois fazer uns joguinhos. Mas, depois, ele vai entrar num chat e ficar conversando com desconhecidos. Escrevendo bobagens, mas não importa. O que eu quero dizer é que nunca a língua portuguesa foi tão exercitada como agora, com o advento da internet.
O Meu Pipi, por exemplo. Ninguém sabe quem é o autor. Nem eu, que o traduzi. Mas desconfio que seja o pseudônimo de um grande escritor português. Um Miguel Esteves Cardoso, por exemplo. Porque, se for algum principiante, a minha tese está certa. Surgiu um novo escritor da nossa língua. Novo e já excepcional.
E vou terminar citando uma frase do Paulo Markum, jornalista, escritor e grande blogueiro:- "Tenho certeza que os blogs serão para a literatura o que os campos de várzea foram para o nosso futebol. Parece pouco, mas pergunte onde é que todos os craques brasileiros começaram a jogar. E quem pensa que existe muita diferença entre escrever e bater bola, está redondamente enganado (sem trocadilho). Num jogo como outro, só se aprende suando a camisa."