sábado, abril 28, 2007

Ainda sobre pai (Um complemento ao post anterior)

26 de outubro de 2005.

Meu pai é um cara tímido. Fala pouco, muito pouco. Gosta de escrever. Certa vez iniciou uma coletânia de seus textos cujo título era "Não falo, escrevo.". Ele é o tipo que entra na festa de aniversário de um dos netos, por exemplo, e só observa. Não conversa, a não ser que outro sente ao seu lado e puxe assunto. É o tal do "entra mudo e sai calado".
Quando éramos crianças, eu e meus irmãos, também era assim. Quase não o víamos. Não foi o tipo de pai que senta no chão para brincar, se agacha para virar cavalinho, se esforça para jogar futebol de botão. Lembro que tínhamos até medo dele. Quando aprontávamos alguma já ouvíamos a mãe falar 'deixe seu pai chegar! Vou contar para ele!'. E nós nos aquietávamos e pedíamos 'não, mãe, por favor!'.
Sempre o beijamos, contudo. Quando saía, quando chegava. Nada de abraço, porém.Quando adolescente, naquela época em que as pessoas pensam que a gente deve começar a saber sobre sexo, deu-me apenas um livro e pediu que eu lesse. Se tivesse alguma dúvida, depois conversaríamos. Nunca tive dúvidas. Talvez eu tivesse vergonha, ou medo mesmo, de conversar com meu pai.
Eu não me lembro de um afagar nos cabelos. E eu adoro um afagar nos cabelos! Penso que seja um dos mais altos tipos de carinho que se pode dar (e receber). Não sei porque. Mas penso assim. Acho que a cabeça é sensível, o topo, a nuca, as laterais. Depois talvez venha a face, as bochecas. Uma passada de mão ali, com carinho, também é o que há de bom. Mas eu não me lembro disto, vindo do meu pai.
Conversava às vezes, mas para aconselhar ou dar bronca. Os conselhos já eram duros, porque vinham quando ele julgava que estávamos errados em alguma coisa.
É, eu sinto um certo vazio quando tento ter lembranças de meu pai. Ainda hoje a gente tem o mesmo tratamento.
Mas o pai é uma figura importante. Por menor que seja a nossa relação com ele, é importante. Um dia, quando ele nos faz um carinho, ou nos diz uma palavra de carinho, sentimos. Sentimos. Parece que até arrepia. Sobe um 'glup' para a garganta. É uma emoção que a gente não sabe nem definir se é boa ou ruim, se recebemos com tristeza ou alegria... No fundo é com alegria. No fundo é uma emoção boa. No fundo é porque ele tem aquela importância que, conscientemente, a gente nem se dá conta...
A você, minha nova amiga de rede. Você sabe quem.

P.S. eu sempre tentei e sempre tentarei ser diferente com os meus filhos. Eu sempre dei e dou carinho...