segunda-feira, maio 28, 2007

A outra história


19 de janeiro de 2006

Esta é a outra história que prometi escrever depois do post anterior.
O Francisco morava na Joaquim de Almeida. Era um amigo de escola e nossas casas eram próximas. Fazíamos juntos os trabalhos escolares, jogávamos bola, andávamos de bicicleta. O futebol de botão também foi um dos passatempos, mas ele não gostava muito porque sempre perdia.
Com nossas bicicletas fazíamos loucuras. Atravessávamos por entre carros em pleno trânsito, íamos parar longe. O Ibirapuera era nossa diversão, mas nossas mães nem desconfiavam disto. Para elas era muito longe e, logo, um perigo para dois adolescentes de bicicleta. Mas íamos.
Na época, dois de nossos colegas de classe eram o Walter e o João Roberto. Os dois fumavam. Além de fumar, eram os grandes da turma, daqueles que intimidavam os demais, e viviam com as meninas, brincando, de braços dados... Eram o sucesso. Eu cheguei a pensar que o cigarro era um símbolo de tudo aquilo, um tipo de marca. Os comerciais de TV também sempre mostraram o sucesso nos esportes, com as mulheres e na vida, para quem fuma.
Resolvemos, eu e o Chico, fumar. Experimentar, pelo menos. Depois de juntarmos algumas moedas, dinheiro de alguns lanches não tomados na escola, compramos um maço de cigarros e um isqueiro. De bicicleta entramos na Luiz de Bragança, Lilases e Napoleão de Barros. Atravessamos a Altino Arantes e a Onze de Junho. A próxima à esquerda era a Agostinho Rodrigues Filho, uma rua que embora grande, era meio pacata. Ali, logo na esquina, havia um imenso muro, algumas pequenas árvores, e seria o lugar perfeito para fumar sem sermos descobertos. Aquele lugar havia sido já estudado em nossas andanças de bicicleta.
Fumamos por um bom tempo. Não foi apenas um maço. Terminado o primeiro, compramos o segundo e mais alguns. Escondíamos o maço e o isqueiro ali mesmo, na rua. Havíamos arrumado umas pedras, montado um tipo de esconderijo, e ali ficavam os petrechos.
O engraçado de tudo é que só fumávamos nós dois, escondidos. Na escola não nos revelamos e não nos colocamos no grupo dos dominadores fumantes...
Depois passou. Esquecemos a aventura e voltamos a ser os bons meninos e bons alunos de sempre. Ah, mas os passeios de bicicleta por caminhos que ultrapassavam fronteiras continuaram!