segunda-feira, maio 28, 2007

Alpendres e parabólicas


3 de janeiro de 2006.

Durante a viagem a "Natal", fui descobrindo que o pacote fechado na agência de turismo só tem o nome "Natal". De fato, quando cheguei lá e decidi pagar para participar de um outro pacote de passeios, fui percebendo que o negócio se trata de conhecer o litoral de todo o Estado do Rio Grande do Norte. Fui do sul ao norte. Penso que aos principais pontos turísticos e que valem a pena ser visitados. É claro que não só o que vi é o que vale a pena. Devido ao tempo curto da viagem, os potiguares devem ter selecionado e escalado o que há de melhor para o turista. Assim devem fazer todos os demais Estados ou cidades.
Os ônibus que me levaram aos passeios, tanto para o sul quanto para o norte, passaram por várias pequenas cidades. Vi muita simplicidade, muita pobreza, muita plantação, muito pequeno comércio. Agora, se há algo que quer disputar a freqüência com os coqueiros é a tal da antena parabólica. São muitas! Em quase todas as casas, das mais humildes às nem tanto assim. Tomei informações e me disseram que os sinais de TV por lá são fracos. A antena daquele tipo, portanto, é necessário, caso o "cabra" queira passar o tempo com a TV. Mas fiquei impressionado. Até as casas de barro têm a parabólica!
Fiquei pensando que a vida por lá é pacata. Daí a necessidade de um entretenimento. Aliás, a vida por lá começa bem mais cedo e termina também bem mais cedo. Lá pelas dezessete horas parece que já começa a anoitecer. Está certo, é verão e lá não existe o horário de verão... Mas, de qualquer maneira, as pessoas devem jantar às dezessete e trinta. Foi a impressão que tive. Daí, alpendre. Alpendre é uma varanda, para quem não sabe. E são muitos. Muitos, muitos, muitos, muitos, muitos alpendres. Em cada um, umas três ou quatro cadeiras. Não que não se veja aqueles com apenas uma ou duas cadeiras, mas a maioria tem as três ou quatro. Alguns poucos ainda têm uma rede. E sabem onde não há os alpendres? Ou nas casas mais pobres, ou nas de classe média para cima. As mais pobres são aquelas de barro, por exemplo. Há outras de tijolo no mesmo modelo. Estas só têm aquela porta cortada ao meio, na horizontal, onde as senhoras se debruçam para ver o movimento da rua. Sobre as de classe média para cima, talvez fale em outro post.
As senhoras debruçadas recebem visitas. Sempre há lá uma vizinha que fica em pé, do lado de fora, para prosear. Nos alpendres as famílias se reúnem. Pais, filhos e netos. Três gerações. Quando há a terceira, fica brincando por ali, correndo de um lado a outro. Mas o que existe é conversa. Sempre a conversa antes da TV. E certamente é mais saudável. A família se conhece mais, compartilha seus cotidianos, se respeita mais, educa melhor.
Conhece casal que fica junto e nem troca palavra? Sim. Estes casos também devem acontecer nos alpendres. Apenas sentam-se ali, juntos, para observar a rua, as pessoas, dizer um “noite” (boa noite) de vez em quando. Depois um entra e vai dormir, outro entra e vai inventar alguma coisa pequena para fazer antes de ir descansar.
É uma boa vida (no melhor dos bons sentidos!).