sábado, abril 28, 2007

Hora da loirinha


10 de novembro de 2005.

Em frente à casa onde eu morava havia um ponto de ônibus. Eu mesmo peguei aquele ônibus durante muito tempo. Deixava-me bem perto da faculdade e já não me lembro em quais outros destinos.Também durante alguns anos, poucos, é verdade, pegava o ônibus uma loirinha. Quando a vi pela primeira vez, da janela do sobrado, fiquei encantado. Não era linda, desbundante, não! Era graciosa, bonita, desatenta ao movimento. Sua atenção estava em seus cadernos e na chegada do ônibus. Olhei meu relógio. Era por volta de uma e meia da tarde e eu acabara de almoçar.
No dia seguinte almocei rápido. Subi correndo as escadas e fiquei por ali, meio escondido na janela. No mesmo horário ela apareceu, vinda da rua de baixo. Fiquei admirando até que a levassem.
Os dias que se passaram observaram a história se repetir: eu escondido na janela.
Minha mãe notou que alguma coisa diferente acontecia. Chegou de mansinho pelas minhas costas num certo início de tarde.
- O que você está fazendo aí?
Eu, todo sem graça porque enquanto perguntava já foi olhando pela janela, não tive como esconder.
- Ela é bonita mesmo - disse minha mãe. Por que não vai lá conversar com ela?
Nunca fui. Minha timidez continuou a me segurar naquele quarto da frente do sobrado. E eu apenas fiquei com aquela distante paixão à primeira vista...
Hoje tudo mudou naquela rua. Apenas a janela permanece a mesma. Até o ponto de ônibus foi parar no quarteirão de baixo.

Mess, confusion, disorder.


7 de novembro de 2005.

Não sou profeta. Era, apenas, previsível.
E cá estou, por enquanto sem teto, quase sem roupa, não abandonado.
Obra é uma merda. Começa aquele pó, aquela sujeira, e a gente tem a sensação (errada, ainda bem!) de que não vai mais acabar.
Entulhei tudo o que saiu da Liberdade em um só quarto da nova casa. Agora já não acho coisa alguma.
O fim chegará. Tudo ficará em ordem e eu com um bom e agradável espaço para morar.
Penso que nossa vida caminha também assim. Há momentos em que tudo parece desorganizado. Surgem problemas que parecem sem solução. A gente perde ou não encontra alguém ou alguma coisa que nos é importante. Desespero até, às vezes, nos assalta. Choro, tristeza, falta de ânimo. Mas há um caminho. Sempre há. A poeira se assenta. As coisas se ajeitam. Às vezes não como imaginamos ou queremos, nem no tempo que desejamos. Embora não entendamos o tempo, temos que respeitá-lo. Depois da tempestade vem a bonança. É um ditado antigo, mas real.
A gente tem facilidade de se adaptar a coisas novas e nem se dá conta disso. Lá na frente, depois de vários dias, ou meses, ou anos até, quando olhamos para trás, percebemos aquela fase de outra maneira. Enxergamos o quanto aprendemos ou deixamos de aprender. Até damos risada de vez em quando. Achamos que o problema não era tão grande assim ou que a solução não era tão difícil. Vemos que superar não foi tão árduo ou, mesmo que tenha sido, as feridas cicatrizaram e nos deixaram um bom legado.
Assim caminha a humanidade...

Novembro




2 de novembro de 2005.

Começou o doce novembro, como diz o nome do filme, e eu me mudando para um número cento e sete, como numa das poesias cantadas por Toquinho.
O novembro não promete ser tão doce assim. Serão dias de reforma, obra, pó, até que tudo se arrume.
Espero que a vida, nova por aqui, por este número cento e sete, seja como uma poesia, cheia de rimas e inspiração, romântica como o Doce Novembro.

Republicação


1º de novembro de 2005.

Agora já sei publicar foto (claro, e ainda bem!), mas não sabia lá em 2002...

10 de março de 2.002.

Só não sei como publicar imagem por aqui, mas a foto que saiu hoje no Estadão, do fotógrafo Tasso Marcelo, que mostra Ronaldinho descansando no intervalo do treino de ontem, na Granja Comary, é uma amostra do lado artístico do profissional. Para quem não viu, Ronaldo está deitado no gramado e lá atrás, numa placa de publicidade da Brahma, os balões do "refresca até pensamento". O ângulo da foto é que mostra a arte: os balões parecem sair da cabeça do jogador...

Duplamente chateado


31 de outubro de 2005.

É. É assim que estou: duplamente chateado. Primeiro motivo: meu blog não tem mais espaço para imagens. Estou pensando o que devo fazer. Talvez reduzir as fotos seja uma solução para que ele dure mais um pouco. Mas será apenas mais um pouco... Um dia acabará mais uma vez... Acho que terei que criar o "Tempo... 2".
Segundo motivo: meu micro (não o de casa e sim o do trabalho) não acessa mais a página de gerenciamento do blog. Não estou entendendo. Os outros acessam e o meu não! Boring. Aqui estou eu no micro do Cadu. Boring. Boring! Para não dizer outra coisa mais feia...

O duro papel do treinador de crianças


28 de outubro de 2005.

Há umas duas semanas fui a um jogo de futebol de escola contra escola. Saí de lá pensando em como deve ser duro ser o técnico/treinador/professor daqueles garotos de 9, 10 anos. Os pais lá, todos assistindo o jogo, loucos para sentir o peito enchendo-se de orgulho ao ver o filho em quadra. O treinador, vamos resumir assim, é quase que obrigado a colocar TODOS os meninos no jogo! O cara tem que esquecer a história de querer ganhar! Mais vale deixar os pais felizes do que ganhar uma partida de futebol contra o outro colégio! Deve ser muito difícil... Para quem tem o espírito competitivo, deve ser MUITO difícil! Tem que ter é espírito esportivo, não competitivo.
Pois bem. Ontem à noite fui assistir a abertura da Oliglória (Olimpíadas do Colégio Nossa Senhora da Glória). Uns vinte colégios convidados. Promete ser uma bela festa esportiva. E eu fiquei pensando naquele assunto do treinador... Se fosse eu, é claro que eu iria lá para GANHAR e não para deixar pais felizes. Eu, com quase certeza, jogaria com Vitinho, Vitão, Marcelinho, Luquinha e Renan, sujeito ainda a derrotas...
Na volta para casa comentei com a Clau sobre meu pensamento. O Felipe ouviu e já foi logo falando: "Não, o tio Celso já falou com a gente que algumas pessoas talvez não joguem!"
Pensei: que bom! Ele tentará vencer! Também, uma olimpíada dessa, tem que tentar vencer mesmo!

E.T. e A.T.


27 de outubro de 2005.

A gente cruza com tanta gente estranha... Está certo, parece que a maioria é normal, mas que tem gente estranha no mundo, ah, isso tem! Parece que vivem em outro mundo, outra realidade, sei lá! Ou vieram de outro mundo, autênticos extra-terrestres. São jeitos, olhares, reações diferentes... Estranhas. São E.T.´s no meio de nós.
Sou um cara normalmente calmo, tranqüilo. Soltar-me no trânsito, porém, é um perigo. Parece que viro bicho. Não agüento gente lerda, gente indecisa, trânsito parado. Lembro sempre de um desenho do Pateta em que ele vai para o trânsito. Aquilo sou eu! Bem, talvez já tenha sido. Até que ultimamente ando mais calminho...
Gente lerda e indecisa, porém, ainda me irrita. São os A.T.´s (atrapalhadores do trânsito). E quantos não andam por aí! Ainda mais no caótico tráfego de São Paulo! São, normalmente, carros importados, ou velhos, daqueles caindo aos pedaços, ou os reis, a polícia. Pode ser a polícia militar, civil ou do próprio trânsito. Haja! Ah, há também os que nem ligam para o que estão fazendo ao volante e só prestam atenção nos seus celulares ou na conversa de alguém que está ali do lado, no banco do passageiro... O carro da foto aí em cima, por exemplo, é um dos A.T.´s de São Paulo. Que saco!
...
Por falar em trânsito, o que devem fazer os motoboys? Todo dia acidente!? Com certeza culpa de algum A.T..

Ainda sobre pai (Um complemento ao post anterior)

26 de outubro de 2005.

Meu pai é um cara tímido. Fala pouco, muito pouco. Gosta de escrever. Certa vez iniciou uma coletânia de seus textos cujo título era "Não falo, escrevo.". Ele é o tipo que entra na festa de aniversário de um dos netos, por exemplo, e só observa. Não conversa, a não ser que outro sente ao seu lado e puxe assunto. É o tal do "entra mudo e sai calado".
Quando éramos crianças, eu e meus irmãos, também era assim. Quase não o víamos. Não foi o tipo de pai que senta no chão para brincar, se agacha para virar cavalinho, se esforça para jogar futebol de botão. Lembro que tínhamos até medo dele. Quando aprontávamos alguma já ouvíamos a mãe falar 'deixe seu pai chegar! Vou contar para ele!'. E nós nos aquietávamos e pedíamos 'não, mãe, por favor!'.
Sempre o beijamos, contudo. Quando saía, quando chegava. Nada de abraço, porém.Quando adolescente, naquela época em que as pessoas pensam que a gente deve começar a saber sobre sexo, deu-me apenas um livro e pediu que eu lesse. Se tivesse alguma dúvida, depois conversaríamos. Nunca tive dúvidas. Talvez eu tivesse vergonha, ou medo mesmo, de conversar com meu pai.
Eu não me lembro de um afagar nos cabelos. E eu adoro um afagar nos cabelos! Penso que seja um dos mais altos tipos de carinho que se pode dar (e receber). Não sei porque. Mas penso assim. Acho que a cabeça é sensível, o topo, a nuca, as laterais. Depois talvez venha a face, as bochecas. Uma passada de mão ali, com carinho, também é o que há de bom. Mas eu não me lembro disto, vindo do meu pai.
Conversava às vezes, mas para aconselhar ou dar bronca. Os conselhos já eram duros, porque vinham quando ele julgava que estávamos errados em alguma coisa.
É, eu sinto um certo vazio quando tento ter lembranças de meu pai. Ainda hoje a gente tem o mesmo tratamento.
Mas o pai é uma figura importante. Por menor que seja a nossa relação com ele, é importante. Um dia, quando ele nos faz um carinho, ou nos diz uma palavra de carinho, sentimos. Sentimos. Parece que até arrepia. Sobe um 'glup' para a garganta. É uma emoção que a gente não sabe nem definir se é boa ou ruim, se recebemos com tristeza ou alegria... No fundo é com alegria. No fundo é uma emoção boa. No fundo é porque ele tem aquela importância que, conscientemente, a gente nem se dá conta...
A você, minha nova amiga de rede. Você sabe quem.

P.S. eu sempre tentei e sempre tentarei ser diferente com os meus filhos. Eu sempre dei e dou carinho...

Pai


26 de outubro de 2005.

Já coloquei textos aqui, no meu blog, sobre pai. Já falei muito pouco sobre o meu.
Na verdade, (como sempre não me lembro bem de datas) há um tempo atrás, mais de um ano certamente, cheguei para o meu pai, do nada, e disse:
- Sabe, pai, hoje eu vejo o quanto eu não entendia a profundidade do que você me dizia. Quantas coisas você me disse e eu não consegui entender. Quantas coisas eu poderia ter feito da maneira que você me orientou e eu não fiz, acabei fazendo do meu modo. Eu estaria melhor hoje. Mas eu não entendia a profundidade das suas palavras...
Meu pai parou, meio assustado, com aquela cara de quem não estava entendendo bem o que eu dizia, e perguntou:
- Como assim, meu filho?
- Vamos ver se consigo explicar: pensemos em uma criança que está aprendendo a andar. Ela começa a descobrir o mundo e quer logo aumentar seu espaço. Começa a querer subir, por exemplo, num sofá. O pai, vendo aquilo, logo diz ‘não suba aí porque você vai cair’. A criança não entende que o pai está enxergando além do que ela vê. E sobe. E cai. E machuca. No dia seguinte acontece o mesmo e talvez ainda uma terceira ou quarta vez. Aí a criança aprende, depois de ir e se dar mal. A criança não entendia a profundidade daquelas palavras ditas pelo pai. Experimentando, começou a entender um pouco mais...
Meu pai continuou com uma cara de quem não estava entendendo. É, talvez estivesse entendendo um pouco, apenas um pouco do que eu dizia.
- É mais ou menos isto. Nós, filhos, até quando adultos, muitas vezes não entendemos o que o pai fala. A gente ignora que ele viveu mais do que nós e experimentou muito mais da vida do que nós. E sempre será assim. Hoje eu entendo e enxergo isto. Hoje eu respeito muito mais o que você me diz, e se não estiver de acordo com o que penso, penso mais vezes, mais duas ou três vezes. Talvez você, e não eu, esteja certo.
Acho que meu pai entendeu.

quinta-feira, abril 26, 2007

O Meu Pipi


25 de outubro de 2005.

Mario Prata, revista Época

Um português abriu um blog na internet. Não sabe o que é um blog? Pergunte ao seu filho. Chamado O Meu Pipi. Uma editora (séria) portuguesa achou o lusitano pipi e o transformou em livro. Uma editora brasileira sentiu o cheiro do sucesso (oitava edição, mas de cinqüenta mil livros vendidos, lá) e vai lançar o pipi entre vocês.
E o que eu tenho a ver com o pipi português? É que me chamaram para traduzir, para transformar o pipi português em pipi brasileiro. A senhora acha que todos os pipis do mundo são iguais? Ledo engano. Há de se traduzir. Por exemplo? A senhorita sabe o que é cona? Panasca? Pila? Paneleiro? Tirar os três? Pois, pois. E broche, minha amiga, posso lhe garantir que não é “jóia ou bijuteria provida de um alfinete longo ou de um alfinete com fecho, que se usa geralmente ao peito para prender e/ou enfeitar uma peça de vestuário”. Não, não é nada disso.
Mas eu não estou aqui para falar da tradução em si, apesar de poder adiantar que trata-se de sacanagem pura, maravilhosamente bem escrita, pelas páginas da internet.
O que eu quero falar hoje é sobre os blogs. Se não sabe o que é blog, pergunte à tua avó.
Há quatro anos venho dizendo para os donos das editoras brasileiras (editoras de livros de papel) que o futuro da literatura está na internet. A quantidade de sites e blogs pessoais – só no Brasil – passa de 20.000 segundo cálculos cá meus. Se as editoras contratassem um especialista em internet para ficar fuçando lá por oito horas do dia, teriam uma surpresa tão boa quanto O Meu (dele) Pipi.
Quando a minha geração começou a escrever, mostrava os textos para um primo, um poeta local ou simplesmente guardava na gaveta. Quantos e quantos escritores da minha idade não ficaram no meio do caminho?
Hoje, não. O sujeito coloca tudo que escreve na telinha, cria sites e blogs com a maior facilidade. E, ali, fica exposto à visitação pública. Poderia aqui citar mais de dez blogs brasileiros que estão merecendo virar livro de papel, mas não vou fazer isto. As editoras que entrem no século vinte um e se virem.
Vejo mães e pais preocupados porque o filho ou filha ficam seis horas por dia na internet. Relaxem, meu amigos. Tudo que ele vai ver é um pouco de pornografia e depois fazer uns joguinhos. Mas, depois, ele vai entrar num chat e ficar conversando com desconhecidos. Escrevendo bobagens, mas não importa. O que eu quero dizer é que nunca a língua portuguesa foi tão exercitada como agora, com o advento da internet.
O Meu Pipi, por exemplo. Ninguém sabe quem é o autor. Nem eu, que o traduzi. Mas desconfio que seja o pseudônimo de um grande escritor português. Um Miguel Esteves Cardoso, por exemplo. Porque, se for algum principiante, a minha tese está certa. Surgiu um novo escritor da nossa língua. Novo e já excepcional.
E vou terminar citando uma frase do Paulo Markum, jornalista, escritor e grande blogueiro:- "Tenho certeza que os blogs serão para a literatura o que os campos de várzea foram para o nosso futebol. Parece pouco, mas pergunte onde é que todos os craques brasileiros começaram a jogar. E quem pensa que existe muita diferença entre escrever e bater bola, está redondamente enganado (sem trocadilho). Num jogo como outro, só se aprende suando a camisa."

Mão fechada?


25 de outubro de 2005.

Foto 3x4? Ainda existe! Ainda existirá até não sei quando. E é inevitável, o que é pior.
Nos arredores de um Poupa Tempo qualquer ou em qualquer outra loja ou quiosque de shopping, meia dúzia de fotos deste tamanho custa entre 6 e 9 reais. Talvez até mais.
Daí surge a malandragem, sugerida por um amigo:
* selecione uma foto digital sua, que você já tem em seu computador.
* recorte e trate em um programa qualquer, no formato desejado (3x4, no caso).
* faça um arquivo de tamanho 10x15 onde caberão 9 cópias daquela 3x4 que você já arrumou.
* mande revelar 1 cópia de seu arquivo (1 foto 10x15).
* recorte suas 9 fotos 3x4.
Conclusão: você terá 9 fotos 3x4 por apenas 1 real! Há lugares em que você faz o mesmo até por R$ 0,85.
Isto é mão fechada! Isto é mão-de-vaca!
Ou será, simplesmente, esperteza?
Ou será como dizer "já estou cheio de ser roubado!"?