quarta-feira, março 14, 2007

Como vivemos até hoje?


24 de outubro de 2005.

Para não ficar em branco o dia de hoje, vai um texto que recebi por e-mail há um tempo atrás. Não sei quem é o autor, mas fica o crédito de ao menos eu estar dizendo que não é meu.
É engraçado este negócio de dizer "para não ficar em branco o dia de hoje"... Ando sentindo uma certa obrigação de postar. Não uma obrigação ruim, pesada, mas uma suave, gostosa, agradável, saborosa até.
Sinto-me feliz de publicar algo e ver meu espaço crescer...

Aí vai o texto:

"Pensando bem, é difícil acreditar que estejamos vivos até hoje! Quando éramos pequenos, viajávamos de carro, sem cintos de segurança, sem ABS e sem AIR BAG. Os vidros de remédio ou as garrafas de refrigerantes não tinham nenhum tipo de tampinha especial... Nem data de validade... E tinham também aquelas bolinhas de gude... Que vinham embaladas sem instrução de uso. A gente bebia água da chuva, da torneira e nem conhecia água engarrafada! Que horror! A gente andava de bicicleta sem usar nenhum tipo de proteção... E passávamos nossas tardes construindo nossas pipas ou nossos carrinhos de rolimã. A gente se jogava nas ladeiras e esquecia que não tinha freios até que não déssemos de cara com a calçada ou com uma árvore... E depois de muitos acidentes de percurso, aprendíamos a resolver o problema... SOZINHOS! Nas férias, saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo; nossos pais às vezes não sabiam exatamente onde estávamos, mas sabiam que não estávamos em perigo. Não existiam os celulares! Incrível! A gente procurava encrenca. Quantos machucados, ossos quebrados e dentes moles dos tombos! Ninguém denunciava ninguém... Eram só "acidentes" de moleques: na verdade nunca encontrávamos um culpado. Você lembra destes incidentes: janelas quebradas, jardins destruídos, as bolas que caíam no terreno do vizinho...??? Existiam as brigas e, às vezes, muitos pontos roxos... E mesmo que nos machucássemos e, tantas vezes, chorássemos, passava rápido; na maioria das vezes, nem mesmo nossos pais vinham a descobrir... A gente comia muito doce, pão com muita manteiga... Mas ninguém era obeso... No máximo, um gordinho saudável... Nem se falava em colesterol... A gente dividia uma garrafa de suco, refrigerante ou até uma cerveja escondida, em três ou quatro moleques, e ninguém morreu por causa de vermes! Não existia o Playstation, nem o Nintendo... Não tinha TV à cabo, nem videocassete, nem Computador, nem Internet... Tínhamos, simplesmente, amigos!
A gente andava de bicicleta ou à pé. Íamos à casa dos amigos, tocávamos a campainha, entrávamos e conversávamos... Sozinhos, num mundo frio e cruel... Sem nenhum controle! Como sobrevivemos? Inventávamos jogos com pedras, feijões ou cartas...
Brincávamos com pequenos monstros: lesmas, caramujos, e outros animaizinhos, mesmo se nossos pais nos dissessem para não fazer isso!
Os nossos estômagos nunca se encheram de bichos estranhos! No máximo, tomamos algum tipo de xarope contra vermes e outros monstros destruidores... aquele cara com um peixe nas costas...(um tal de óleo de FÍGADO DE BACALHAU). Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros, e tiveram que refazer a segunda série.. Que horror! Não se mudavam as notas e ninguém passava de ano, mesmo não passando. As professoras eram insuportáveis! Não davam moleza... Os maiores problemas na escola eram: chegar atrasado, mastigar chicletes na classe ou mandar bilhetinhos falando mal da professora, correr demais no recreio ou matar aula só pra ficar jogando bola no campinho... As nossas iniciativas eram "nossas", mas as conseqüências também! Ninguém se escondia atrás do outro... Os nossos pais eram sempre do lado da Lei quando transgredíamos a regras! Se nos comportávamos mal, nossos pais nos colocavam de castigo e, incrivelmente, nenhum deles foi preso por isso! Sabíamos que quando os pais diziam "NÃO", era "N Ã O". A gente ganhava brinquedos no Natal ou no aniversário, não todas as vezes que ia ao supermercado... Nossos pais nos davam presentes por amor, nunca por culpa... Por incrível que pareça, nossas vidas não se arruinaram porque não ganhamos tudo o que gostaríamos, que queríamos... Esta geração produziu muitos inventores, artistas, amantes do risco e ótimos "solucionadores" de problemas... Nos últimos 50 anos, houve uma desmedida explosão de inovações, tendências... Tínhamos liberdade, sucessos, algumas vezes problemas e desilusões, mas tínhamos muita responsabilidade... E não é que aprendemos a resolver tudo!?"

Esses homens brutos...


22 de outubro de 2005.

Filmes? Homem gosta de ação, de aventura, de briga, de perseguição, de porrada, de tiro...
Lado animal. Meio lei da selva. Nem sei se "meio"... Talvez inteiro lei da selva.
Os mais românticos, os mais sensíveis, os mais compreensivos, são diferentes? Não! O lado bruto apenas descansa sossegado em algum quarto escuro, escondido em algum lugar. Mas está lá! Existe! E eu não sou diferente.
Ontem, mesmo chamado de última hora, e mesmo com um torozinho à noite, não resisti e fui ao Ginásio do Ibirapuera: ShowFight! Um show de lutas! Vários estilos. Lá, no ginásio, praticamente só brutamontes. Quando acompanhados, uma malhada ao lado.
Nunca pensei que teria uma oportunidade desta. Valeu, Rodrigo.
Eu não poderia finalizar sem deixar a clássica frase de que os brutos também amam...

Texto de Fabio Hernandez, revista VIP


21 de outubro de 2005.

Você é apenas um menino Será que algum dia os homens realmente crescem?
Você é um menino. Treze, catorze anos. Inseguro, tímido. Começa a se interessar pelas mulheres. E não vai demorar para perceber que mulheres e problemas aparecem juntos em sua vida. Você não sabe lidar com o mundo novo no qual está entrando. Sua voz está mudando. Os pêlos estão aparecendo. O futebol já não é seu único interesse. Aparecem os primeiros bailes. Você não sabe direito que roupas escolher. As sugestões de sua mãe lhe parecem horríveis. Mãe nunca acerta na roupa do filho, uma lei tão velha e tão eterna quanto as estrelas no céu e as ondas no mar. Ser criança era muito mais fácil. E então você olha para os garotos um pouco mais velhos. Eles estão nas classes um ou dois ou três anos mais adiantadas que a sua. Seu olhar mistura admiração e inveja. Eles parecem tão seguros. Tão confiantes. Alguns ameaçam um bigode, uma barba. A voz já está definida. E as meninas da sua classe estão apaixonadas por eles, não por você. Eles são mais altos que você. Eles são melhores que você. Já devem até ter dormido com alguma menina. E você jamais viu uma mulher nua que não fosse sua mãe ou não estivesse numa revista. Eles se libertaram daqueles programas sem graça com a família. Mas seu dia chegará. Os dias hão de passar. Você vai crescer e seus problemas desaparecerão. Você será um homem firme, forte, como os caras mais velhos.
E eis que você é como eles. Os caras maiores que você via de longe. Você imaginava que sua vida seria outra. Mas não foi bem assim. Você cresceu, sua voz engrossou. Você até viaja sozinho, sem os pais, com os amigos. A virgindade ficou para trás, mas você já percebeu que o sexo não é o fenômeno extraterrestre que você pensava ser antes de experimentá-lo. É bom, às vezes muito bom, algumas vezes ótimo. Mas não é coisa do outro mundo. A terra não treme sempre ao fazer sexo, ao contrário do que você sonhava. Você já é um homem. Ou quase um homem. E pensava que a segurança máscula viesse com o tempo, com a mesma naturalidade com que a terra se molha quando vem a chuva. Mas não. Seu dia chegará. E então você olha para os homens feitos. Formados, empregados. Alguns casados. Eles, sim, são os típicos homens. Basta olhar para o andar seguro, o olhar firme. Eles não têm dúvidas, não têm medos como você. Os mais ricos têm carros chiques. Pagam com cartão de crédito, e não com o dinheiro pedido a seu pai, como você. Uns vestem gravatas que devem valer duas mesadas suas. Alguns têm um cartão em que estão escritos o nome e o cargo. Nada parece ser capaz de abalá-los. Eles não sentem vontade, nas noites mais escuras, de pedir um refúgio na cama dos pais. Você sente, às vezes. Seja honesto: você fez isso outro dia. Seu dia chegará. E chegou. Você se formou. Arrumou um emprego promissor. Tem um cartão profissional. O carro podia ser melhor, mas é bom. Tem ar-condicionado e som. O namoro é firme. Deve terminar em casamento. Seu armário tem até um blazer Armani que você comprou num momento de entusiasmo e desvario. Mil reais. Você parece o cara mais seguro do mundo, como todos os seus colegas e amigos. Mas só parece. Lá dentro continua uma criança, como todos os seus colegas e amigos. Todos disfarçam bem. Todos aprenderam que ser homem é ser forte. Você queria gritar socorro, mas não convém demonstrar fraqueza. Você queria se abrigar no colo de seu pai, mas ele já não está lá. E então você ri, porque a vida é mesmo engraçada, repleta de crianças fingindo-se de homens até o último dos dias.

Multiplicação




21 de outubro de 2005.

Multiplicação I


O caso é apenas uma observação. Nos últimos anos, e cada dia mais, as empresas trocam funcionários por máquinas. Outra: trocam dois, três, até quatro funcionários, por um. O “um” é o sofredor. Simplesmente não passa a acumular os salários, mas sobrecarrega-se com as funções dos outros que se foram.
Tentei, de todas as formas, melhorar a foto que aparece aí em cima. Está com efeitos e um monte de ferramentas embutidas. É que, quando tirei, foi como um relâmpago. Eu estava no trânsito, quando vi a cena, carro com vidros fechados (e com insulfilm). Não deu tempo de nada. Foi só sacar a câmera e “click”. A foto original está escura, com falta de detalhes importantes....
Bem, a imagem mostra um câmera-man repórter. Ele fez as perguntas, estendeu o microfone, filmou. Vá saber se depois também não editou! Ah, e o carro da emissora estava parado ali por perto! Além de tudo, motorista!
É a multiplicação do homem, ou do trabalho do homem, ou sei lá!

Multiplicação II

Desemprego acontece e a pessoa se vê com uma mão na frente e outra atrás. O jeito é encarar o que aparecer pela frente. Um “bico” aqui, outro ali.Às vezes também usa-se de criatividade, cria-se uma alternativa. Há dois dias ouvi, numa sala de espera, uma conversa entre três amigos. Um deles contava:- Minha noiva está fazendo bisqüi e eu monto uns terços. Depois saio para vender. Vendo solto, só a peça, para uma mulher que embala, inclui uma oração e revende lá em Aparecida.
- Ah, que legal! Mas, por quanto você vende?
- Um real! Não dá para fazer por mais. É fácil vir alguém que vende por menos e eu perder minha cliente. Um real é o preço!
- É, tem que usar a criatividade, né? Eu estou pensando em fazer cesta de café da manhã... Já fui ver, mas, sei lá, preciso ver...
Alternativas. Cada um cria e vai atrás de ganhar o seu dinheirinho.
Serviços também multiplicam-se. A foto que foi aí, agora, também foi tirada no trânsito. É o típico “fazemos qualquer negócio!” Numa mesma casa: venda de água, compra e venda de cartuchos para impressoras, costureira, brechó, fotocópias. O jeito é multiplicar!

Lolita




20 de outubro de 2005.

Questiono-me como será a maioria dos homens. Dizem as mulheres que são todos iguais. Ouvi, tempos atrás: "se os homens são todos iguais, por que as mulheres escolhem tanto?" Maldade, pura maldade machista!
O "todos iguais" não pode ser generalizado. Depende sempre do assunto. Eu não acredito, por exemplo, que quando trata-se de fidelidade todos sejam infiéis. Também não creio que a falta de atenção às necessidades femininas seja característica de todo o universo masculino.
Outra frase muito falada é "há sempre as excessões".
Um assunto, porém, intriga-me. Não li a obra "Lolita", mas assisti "Presença de Anita". Uma menina seduz um quarentão.
Agora está quase terminando uma novela que nem assisto: América. Mesmo enredo, uma menina seduz um quarentão. Da mesma maneira com que me apaixonei por Mel Lisboa, ando agora apaixonado por Cléo Pires. E isso porque não assisto a novela. Vejo alguns lances, poucos mesmo. Não, não sou tarado ou pedófilo, não! Talvez por encaixar-me na faixa etária, ou quase, eu me veja no lugar de Edson Celulari.
O que são aqueles olhos da Cléo? E aquele sorriso encantador? O que eu faria?
Penso que este lance de ser seduzido por uma mulher mais nova deve ser alguma fantasia masculina.
Uma vez alguém me disse que é um caso de energia. Os mais velhos, e aí inclui-se tanto homens quanto mulheres, quando encontram um par mais jovem, encontram renovação de energia. Faz bem, ao corpo e ao espírito. (Será?)
Agora retorno à frase inicial: como será a maioria dos homens? É, penso que é uma fantasia.

Hoje é seu aniversário...


20 de outubro de 2005.

Filho, você foi feito sob o sol, sobre a areia, e é claro que seria lindo.
Foi o primeiro dos netos, como eu. Encantador.
Começou a andar na comemoração do seu primeiro aniversário.
Conversava como um adulto e as pessoas diziam que era culpa minha, chato que sou com o português, contrário que sou de falar naná, papá e mimí. Mas não! Você convivia com adultos e talvez pensasse menos infantilmente do que outros da sua idade.
Lembro-me de quando ouviu seu avô dando uns poucos acordes no violão e já soube qual era a música. Orgulho! Tinha ouvido para a música! Hoje fico feliz de saber que está em aulas de violão.
Você é meu desenhista, meu artista! Ganhou a mesma veia que eu penso ter, e mais desenvolvida. Espero que cresça, que faça desse seu gosto, seu talento, seu ganha-pão. Porque trabalhar com prazer e por prazer é a melhor coisa que pode acontecer nesta área.Você também sentiu, como eu, o que é ter problemas. Por que meu irmão não tem? Quantas vezes eu pensei assim também... Mas é bom para o nosso crescimento.Você é meu orgulho! Você é meu companheiro. Você é meu amor. É muito grande o amor que tenho por você!

Você não é caliente, mas tem sua forma de deixar sua marca.
Saiba que estou e estarei sempre aqui, ao seu lado, para o que der e vier!
Adoro você!
Parabéns pelo seu aniversário, meu filho!
Um beijo!

Memória de minhas putas tristes


18 de outubro de 2005.

Já li "Cem Anos de Solidão" e, embora o autor seja um Nobel da Literatura, confesso que arrastei para ler até o final. Um dia desses deparei com este novo título e com um pedacinho do livro:
"1 No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver. Era um pouco mais nova que eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei sem preâmbulos: - É hoje. Ela suspirou: Ai, meu sábio triste, você desaparece vinte anos e volta só para pedir o impossível. Recobrou em seguida o domínio de sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi. Mas talvez espere, disse ela, sempre mais sabichona que qualquer homem, e me pediu nem que fossem dois dias para revirar o mercado a fundo. Eu repliquei a sério que numa questão dessas, e na minha idade, cada hora é um ano."
Quanta coisa em pouco texto!
"A moral é uma questão de tempo", "A inspiração não avisa... mas talvez espere", "... na minha idade, cada hora é um ano"...
Sem mais comentários.

A história do Confette


18 de outubro de 2005.

Um amigo querido foi quem contou. E é história real.
A avó, já avançada na idade, começou a sentir dores por todo o corpo. Queixava-se muito, o dia inteiro. A família, preocupada, tratou de levá-la ao médico. Vários exames foram solicitados e realizados. As dores continuavam e os resultados dos exames finalmente saíram.
Voltaram ao médico. O doutor olhou, olhou e chamou a família de lado:
- Ela não tem nada! Façam o seguinte: conhecem aquele chocolatinho, Confette?
- Sim! Claro!
- Comprem, separem somente os de UMA cor e coloquem num vidrinho. Mostrem para ela o vidrinho. Quando ela se queixar de dor, dêem um a ela, com um copo d´água.
A família, vendo que todos os exames possíveis realmente haviam sido realizados e confiando no médico que há tantos anos cuidava de cada um deles, fez o recomendado. Resultado: após o "remedinho" a avó passava muito bem.
Talvez eu precise de um "Confettinho"...

Reencontro




16 de outubro de 2005.

Mais de dez anos. Creio que treze. Lembro-me da que talvez fosse a última foto em que o Lukas estava no meu colo. Dois anos de idade? A idade do Henrique hoje? É, talvez seja mesmo isto.
Reencontramo-nos, eu e meu irmão. Não que não nos vejamos sempre, em quase todos os finais de semana. Reencontramo-nos no campo de futebol de mesa! Nossa paixão. Nosso lazer de todas as férias escolares. Jogávamos o dia inteiro, grandes, enormes campeonatos em tabelas cuidadosamente pensadas e preparadas. Éramos só nós dois.
Quando jogávamos sobre a mesa das refeições, minha mãe sempre nos apressava a sair dali para que o almoço ou o jantar fosse servido.
No reencontro, Flamengo versus Santos. Ele Flamengo, que é seu time do coração. Eu Santos porque, embora não santista, sempre foi meu maior campeão no campo de madeira.
Foi só para matar as saudades mesmo! Já não temos mais a habilidade de fazer gol sobre gol. A marcação continua cerrada, ainda mais no pequeno campo de hoje. No passado o campo era oficial. Times? De todos, dos de plástico, de acrílico, de celulóide e profissionais!
O tempo passando e um zero a zero no placar. Nos velhos tempos já haveria de estar uns seis a seis, no mínimo. Até que chegaram os gols. Mengão dois a zero e no final da partida uma clássica virada: Santos quatro a dois.
Ótimo! Ótimo ter meu irmão sempre ao meu lado. Ótimo voltarmos às brincadeiras e lembranças de criança e adolescente. Ótimo abrir as caixas e rever os mais de cem times, mesmo não estando todos intactos e ordenados como antigamente. Ótimo ter a assistência de nossos filhos agora. E a preocupação das mulheres em saber quem estava ganhando...
Maravilhoso!

O Rei da Área


15 de outubro de 2005.

Mais uma antiga. Desenterrei mesmo!

2 de Julho de 1999.

O Rei da Área

Nosso rapaz é conhecido por Café. Não vem da cor da pele, que não é negra. Vem de seu próprio nome: Carlos Fernando. Seus primeiros amigos começaram a chamar-lhe assim.
Naquele dia, próximo à hora do almoço, um pouco depois, Café teve que passar pela antiga rua onde morara. Foi caminhando.
A rua não era uma ladeira com forte inclinação. Era quase plana, com uma suave descida.
Café foi caminhando.
Passou em frente ao colégio onde estudou por cinco anos. Os muros estavam mais altos, o portão mais fortalecido e cerrado. Natural em época de férias...
Alguns passos depois ficava a casa do Marco Antônio.
Este, quando criança de quinta série primária, era um gordinho solitário. Não tinha amigos. Parecia não os querer. Seu único relacionamento foi com Café. Juntos fizeram alguns trabalhos escolares, algumas aulas de natação, talvez só. Ele sempre pareceu ao Café ser rico, apesar de que seu pai parecia nada fazer, em nada trabalhar. Marco Antônio tinha um gesto do qual nunca mais Café esqueceu: quando o tempo estava frio, juntava as mãos como se fechando uma ostra e assoprava para dentro. Café não entendia o motivo, até que um dia perguntou. “É prá esquentar as mãos”, respondeu Marco Antônio.
Quando passou na frente da casa do antigo amigo, Café somente teve duas reações: observou os carros, o da garagem e o que estava em frente, e pensou: “o que será que este cara está fazendo hoje em dia?” Os carros continuavam a ser de rico. Só que um era velho e o outro novo.
Na descida da rua olhou também a casa do Augusto. Nada pensou, porém.
Enquanto descia, Café observava que muito havia mudado. A casa do Wilson permanecia igual. “Ó Vílson!”, era o que lembrava. Era como a professora de Educação Moral e Cívica chamava o amigo. “Muito engraçado”...
Passou depois pelo 581. Era a casa da Paula. Lembrou-se que a menina era o máximo. Andava de moto e de carro pelas ruas, mesmo quando era menor de idade. Passava exibindo-se. Os amigos disseram, numa época, que a Paula queria, de qualquer maneira, namorar com o Café. Ele nem ligou. Só encheu o ego de alegria, convencendo-se do quanto era bom.
No 620 morava a Rita. “Bela Rita!”, pensou o Café. Só deu-lhe alguma atenção, porém, quando precisou de “cola” nas provas da escola. Andava com os grandes, com os malandros.
Olhou a travessa onde jogava futebol. Lembrou-se que era o dono do time. As camisas foram as que ele mandara. A bola não saía de seus pés. Foi o artilheiro também. Quebrou até um cabo da Eletropaulo certa vez. Até o punk o respeitava, mesmo quando em turma. As meninas o adoravam e as namoradas não foram poucas... Márcia Helena, Letícia, Simone, Ana...
Neste momento da caminhada Café pensou: “Eu era o rei da área...”
“É, eu era o rei da área...”, continuou pensando o Café.
De repente parou. Olhou bem à sua volta, ao menos na imaginação. A “área” era tão pequena... Três quarteirões talvez...
Mas ele foi o rei. Era isso o que importava. E o Café se foi. O passado ficou ali, somente nas suas memórias.

Mais um texto amarelado


15 de outubro de 2005.

Mais um texto. Esta história aconteceu.


9 de Julho de 1999.

Cláudia

Claúdia tinha cabelos negros. Como os olhos que, porém, brilhavam em sua inquietude. Seu rosto era afilado, belo. Seus lábios eram delicados e guardavam um sorriso branco, reto, arrebatador.
Não era alta. Deveria ter seus um metro e sessenta. Carioca que havia anos já morava em São Paulo. Seu corpo branco era escondido em calças jeans escuro, apertadas. Adorava que os rapazes admirassem suas curvas.
Maria Inês era uma amiga. Andavam juntas, conversavam muito. Quando em cochichos seguia-se o som de alegres gargalhadas. Maria Inês, porém, era na aparência diferente. Trajava-se com roupas largas, coloridas em tons apagados, vez em quando floridas, de padrões diferentes das demais garotas. Traziam a quem lhe observava uma breve denúncia de alguns de seus gostos e hábitos. Tinha poucos amigos. As pessoas marginalizavam-na de certa maneira, justamente por fugir um pouco aos padrões. Interessava-se por horóscopos, leitura de mão e de cartas, diria, abrangentemente, por ciências ocultas. E Cláudia gostava de ouvir-lhe.
Sabia-se, entre os colegas de classe, que a atraente Cláudia tinha um namorado de nome Fernando. Trabalhava este em um banco, numa esquina da avenida Ibirapuera. Ele era mais velho do que ela.
Faltou dizer que este tempo foi por volta do ano de 1985 e que a escola em questão era já de terceiro grau, curso de comunicação.
Os trabalhos escolares solicitados pelos professores não eram muitos nos primeiros anos. Eram sempre, é bom dizer, para ser realizados em grupos.
Cláudia e Maria Inês logo convidaram Johnny para o convívio. Era um rapaz franzino, usava cabelos bem curtos, alvo de pele. Usava um óculos redondo, altos graus de miopia. Jogava esgrima, o que, quando contava, surpreendia o interlocutor.
Não era bonito o Johnny. Simpático certamente. Era alegre, gostava de brincar. Seu relacionamento estendia-se bem pela classe.
Logo viu-se Johnny apaixonado. Seguiu-se vê-los namorando, Cláudia e ele. E o tal Fernando? A notícia não espalhava-se, mas entre os mais chegados de Johnny era sabido que o tal não fora esquecido pela namorada.


Cláudia namorava com os dois. O do banco de nada tinha conhecimento, mas o de cá, de nosso ambiente, tinha tudo às claras e sofria querendo-a exclusivamente. Cláudia dominava-o. Tratava-o com calor, carinho, carícias. Usava de todas as armas que sabe usar uma mulher, quando quer. Sabia que assim o manteria enrabichado.
O pavio do namorado era curto, detalhe do qual ela não se apercebeu. Em seus pensamentos ele estava em suas mãos. Fazia o que ela desejava, estava à sua disposição para quando e para o que quisesse.
Um dia Johnny a deixou. Cláudia correu à Maria Inês. Contou-lhe com ar desanimado o ocorrido e, coisa de quinze minutos depois, já gargalhava com a amiga. O Fernando ainda existia...
Os passos seguintes de Cláudia foram longe de inocentes, pelo contrário, foram bem pensados. Convidou logo os três amigos mais próximos de Johnny para que o substituíssem no grupo de trabalhos escolares. Neste tempo convidou também a Carla, uma pequena, graciosa e tímida moça, que poucos amigos tinha. O grupo multiplicou-se da noite para o dia.
O Osmarzinho tinha uma namorada, a Sabrina. O Plínio, ah, não parecia ter muito interesse em temperamentos como o de Cláudia. A Carla sim, ajustava-se ao seu padrão, mas esta também já namorava. Mas restava o Pedro...
Durante os dias Cláudia foi avaliando-o. Era um rapaz alegre, tímido, com certa beleza. Tinha um ar de inocente, como provaria sê-lo depois, de estudioso, de carente. Quando o assunto era escolar, matérias, trabalhos, provas, era ele o líder. Tudo sabia. Qualquer outro assunto, porém, era ele o calado, o ouvinte. Nunca, ou quase, emitia opinião. Mantinha-se a ouvir, a rir ou sorrir vez por outra.
Cláudia começou a encantá-lo. Foi no que julgava ser seus pontos fracos. Usava de toques, piscadelas, sorrisos, olhares profundos, sensualidade.
Não foi muito difícil ganhar a luta contra Johnny. Sim, porque este, quando percebeu as intenções da ex-namorada, veio logo proteger o amigo. Não se sabe se por ciúmes ou por amizade sincera, por não querer ver o amigo a entrar no mesmo barco do qual ele acabara de saltar, mas o fato é que ele uniu-se mais ao Pedro, e vivia a falar coisas ao seu ouvido.
Voltando à Cláudia, ela venceu Johnny. Poucos dias depois saía ela radiante a desfilar de namorado novo.
E o Fernando? É, logo depois de iniciado o namoro com Pedro, Cláudia desentendeu-se com Fernando. Era este namoro antigo, coisa de mais de dois anos, e não se soube o motivo da discussão. O que é sabido é que Pedro ficou achando que havia conseguido o resultado que Johnny não alcançara.
Cláudia logo descobriu a inocência do novo namorado.
Dezoito anos era a sua idade. O namoro com Fernando trouxera-lhe o conhecimento do sexo, do prazer.
O Pedro, claramente, nada conhecia do assunto, ainda. Foi descobrindo o fato quando perguntava-o sobre relacionamentos passados. Até que não foram poucos, mas infantis. Somente beijos e abraços, passeios a cinemas, lanchonetes e shoppings. Nada mais.
Ela era fogosa. Gostava do tato das mãos, do encontro saboroso de línguas em beijos aprisionadores...
Foram poucos os dias passados até que ela o convidasse a visitar sua casa. As tardes eram livres. Livres de deveres, livres de pai, livres de irmã, livres de empregada.
Era órfã de mãe. Seu pai trabalhava com cinema nacional e raros eram seus encontros com as filhas. A única irmã, mais nova, vivia trancafiada em seu quarto, quando em casa, e a maior parte dos dias na rua, ou em casa de colegas. A empregada não deixava seus afazeres na casa. As tardes de Cláudia, enfim, eram solitárias. Pedro não sabia, porém, destes fatos.
Chegou, enfim, a primeira tarde em que Pedro foi encontrá-la naquela solidão.
Trocaram algumas conversas sobre a faculdade, sobre os colegas, sobre o grupo de trabalhos... Não foram muito adiante nestas palavras. As mãos de ambos já acariciavam o outro enquanto falavam. Sentavam-se no chão da sala, local de pouca luminosidade, aos pés do sofá. Beijavam-se muitas vezes, e com o calor de uma paixão relâmpago...
Os dias foram-se passando e as visitas do namorado tornando-se quase que diárias. Ao som de um rádio em volume agradável, Claúdia foi envolvendo o namorado em carícias nunca dantes por ele conhecidas. Achou ele que pela primeira vez uma mulher tratava-o como homem. Foi-se a adolescência, pensava.
As carícias desenvolveram-se compassadamente. A cada dia cresciam um pouco. Ah, malvada Cláudia! Colocava Pedro a cada dia mais enlouquecido. Sabia fazê-lo tremer por dentro, arrepiar-se, ter a velocidade do sangue circulante aumentada, talvez a cem vezes... As conversas já nem iniciavam-se como nos primeiros dias. Iam já direto aos prazeres...
Numa tarde, quando Pedro chegou, Cláudia veio instigá-lo.
- Comprei dois biquínis, disse-lhe. Quer ver como ficaram em mim?
A resposta não era necessária sair da boca. Os olhos de Pedro brilharam com mais intensidade e logo, muito rapidamente, respondeu a ela que sim. Cláudia subiu as escadas. Voltou com um embrulho e abriu-o mostrando os biquínis. Ah, meu Deus, pensava o namorado com um rosto de felicidade. Cláudia saiu com uma peça na mão dizendo que iria trocar-se. Logo voltou, ainda vestindo as calças apertadas e a pequena camiseta que mostrava seu umbigo.
- Resolvi não mostrar para você...
- Mas... por quê?
Cláudia nada explicou. Abraçou Pedro delicadamente, colou-o em seu corpo e beijou-o na boca, deliciosamente. Acariciava-o na nuca, escorregava as mãos por suas costas. Ele, tímido, tinha as mãos em volta da perigosa cintura da moça e pensava, em seu estado de excitação, em descê-las. Existia um medo interno. Nunca antes o fizera, com qualquer das namoradas. Ardia por dentro e Cláudia bem o sabia. Provocava-o. Devagar e ainda aos beijos, foram para o chão, ao mesmo lugar de todos as tardes. Cláudia levou Pedro a sentar-se recostado aos pés do sofá, abriu suas pernas e colocou-se no colo do namorado. Apertava-o agora com todo o corpo. Fazia-o transpirar. Roçava seus quadris pelo colo de Pedro e seus movimentos aceleravam-se... Pedro soltou as mãos para encontrar-lhe as lindas curvas. Desceu-as, subiu-as novamente para a cintura. Subiu-as a encontrar os seios de Cláudia. Tinha ainda medo dentro de si, mas quando encontrou os seios da namorada ouviu, no mesmo tempo, um gemido de prazer ao seu ouvido. O medo deixou-o. Nunca experimentara tamanha sensação de prazer e loucura. A virgindade de um rapaz de dezenove anos, que era raríssima entre os de sua idade, estava para ser arrancada...
Cláudia, contudo, parou, instantaneamente. Sorriu maliciosamente, freou Pedro em seus instintos e no caminhar de suas mãos. Era dela o domínio. Passou-lhe a mão, suavemente, pelo rosto, pela nuca, em seus finos cabelos. Disse que amava-o. Disse-lhe ser virgem.
Ao pronunciar aquelas últimas palavras teve como resposta de Pedro um olhar assustado. Houve um tempo de silêncio entre os dois. Somente o rádio tocava baixinho. Quando retornaram às palavras Pedro confessou-lhe:
- Também sou.
- Você? Não acredito! – respondeu ela em tom atônito, porém de modo teatral posto que já tinha certeza da verdade que ele acabara de contar.

A esta altura o fogo que consumia Pedro já se ia. Era já passado das dezessete horas e Cláudia o despediu. Sabia que em seu caminho de volta nada do que se passara lhe fugiria à memória. Sabia que em lembranças o namorado ainda sentiria excitação por ela, por repetirem-se aqueles momentos. Sabia que provocava-o e que tinha o domínio. Quando ela quisesse, e se quisesse, ultrapassariam aquele novo limite imposto. O namorado subia em nuvens, por outro lado. Sua paixão assemelhava-se ao pé de feijão da estória do João: crescia sem parar e a uma velocidade particular.
Faziam o curso no horário matutino.
Numa dessas manhãs, Cláudia chegou para as aulas especialmente feliz: conseguira um emprego. Trabalharia no período da tarde, no Unibanco, numa agência bem próxima à sua casa. Pedro partilhou da sua felicidade. É importante dizer que nesses dias todos que se passaram, e em alguns que ainda passariam, a intimidade dos dois ainda era mantida por Cláudia no mesmo limite do último encontro narrado.
Cláudia iniciou no novo emprego na semana seguinte. Duas semanas depois seus assuntos com Pedro resumiam-se a apenas um: o trabalho. Começou a deixá-lo, algumas vezes, para ir ter com Maria Inês, a velha amiga. Conversavam em segredos como antes, contudo não gargalhavam tanto mais.
Pedro era sensível. Sentia no ar que coisas, não sabia exatamente quais, estavam mudando. Até que chegou um dia que ele não desejava que existisse.
- Pedro, vamos dar um tempo?
- Dar um tempo? – e deu uma pausa à fala. Como assim?
- É, no nosso namoro...
- Mas... por quê?
Pedro corou, sentiu um embargo na garganta, um arrepio ruim a subir-lhe pelo corpo, uma tristeza a invadir-lhe.
- Não sei se quero também... Estou meio confusa... Ah, esquece...
A má semente já tinha mergulhado no solo. A moça queria manter-se fria mas iniciou-se uma batalha contra o calor do corpo de Pedro que ela tinha abraçado. Ela sentia-o imóvel, sem capacidade de reação. Sentiu a tristeza dos seus olhos. Sentiu remorso no coração...
O segredo que Cláudia escondia chamava-se Mário. Era um rapaz aloirado, cabelos jogados para o lado esquerdo, lindos. Tinha nos olhos um ar de esperteza, olhos grandes, negros como os dela. Era esbelto, trazendo na pele uma cor dourada. Trabalhava no Unibanco e trajava-se sempre como o próprio ofício lhe exigia. Seus costumes e gravatas eram muito bem cuidados, sapatos lustrosos. Era um belo rapaz.
Os dias que se foram desde a entrada de Cláudia no banco foram dias de olhares. Ela, logo que o viu primeira vez, sentiu um arrepio diferente subindo por seu corpo. Ele também a olhara de um modo singular. As primeiras conversas vieram e, no seu oitavo dia de trabalho, Cláudia recebeu um convite para saírem. Combinaram para o sábado à noite.
Cláudia nada contou a Pedro. A Maria Inês sim, confidenciou o que estava acontecendo. Não via a hora de chegar o sábado, mas sentia-se triste quando estava com Pedro na faculdade, pelas manhãs. Ela abraçava-o, beijava-o, tratava-o com carinho. O namoro ainda continuava embora seu coração já pendesse para outros olhos.
Saiu com o Mário, enfim. Pela primeira vez em sua vida de apenas dezoito anos não eram dela as rédeas. Sentia-se dominada, fascinada pela beleza, pelo sorriso, pela agradável conversa, pelos modos gentis. Sentia-se apaixonada. Entregou-se em carinhosos beijos lá pelo fim da noite...
Chegou na faculdade, na segunda-feira, gélida. Não sabia como olharia para os olhos azuis de Pedro. Não saberia esconder... Na verdade até faltou-lhe vontade de ir às aulas naquele dia, mas foi.
Cláudia não poderia esperar. Antes das aulas chamou Pedro a um canto.
- Pedro, agora é sério, eu preciso de um tempo.
Pedro congelou.
- Mas por quê? O que está acontecendo? O que estou fazendo de errado? Clá, eu te amo, estou feliz...
Escondia ele a insegurança que sentia, a má semente que já queria brotar no seu íntimo.
- Estou confusa, só isso. Preciso de um tempo.
- Mas confusa com o que?
Ela não sabia como responder, como contar da existência do Mário. Depois de um breve silêncio, vendo que Cláudia nada dizia, Pedro adiantou-se:
- É no banco? Tem outro cara? Quem é?
Na verdade ele não desejava ouvir as respostas. Já pressentia havia dias...
- É. Conheci uma outra pessoa... Mas só estou confusa... Preciso de um tempo para pensar... Eu também te amo... Mas preciso de um tempo...
Pedro mostrou inconformismo. Era verdade, existia um outro.
Cláudia sentiu-se mais aliviada. Conseguira falar ao menos. Foi assentar-se junto da Maria Inês, longe de Pedro. Os amigos deste não demoraram a lançar-lhe olhares curiosos. O Johnny, especialmente, parecia já entender todo o ocorrido.
Mal despediu-se de Pedro quando se foi após as aulas daquela segunda-feira.
Passaram-se mais alguns dias. O coração de Cláudia enamorava-se mais pelo Mário. Foi convidada mais vezes para sair com ele. Foi e divertiu-se. As conversas continuavam longas e agradáveis, o sorriso do Mário era contagiante como sua delicadeza e cortesia, seus beijos eram como um sonho...
Na faculdade Cláudia sentia-se incomodada com a fixação dos olhares de Pedro sobre ela. As aulas já nem deviam adentrar os ouvidos do ex-namorado. Perturbava-a a insistência com que ele queria sempre falar com ela alguma coisa. Ela o ouvia, mas cansava-se das mesmas palavras: “Clá, eu te quero... Eu vou ganhar deste cara... Você vai ser minha... Eu te amo... Não me deixe, por favor...”. Ela cedia aos apelos vez em quando. Dava nele alguns abraços, alguns beijos. Nos beijos sentia lágrimas de Pedro escorrerem pelo seu rosto. Via nos olhos do pobre um sofrimento que apertava-lhe o coração. Sabia por outro lado que alimentava-lhe as esperanças quando cedia desta forma.
Cláudia lembrou-se de um passado não muito distante: Fernando e Johnny. “Por quê não ficar com os dois?”, pensou. “Eu amo os dois...”.
Mais uma vez o do banco de nada sabia do outro. O dos bancos escolares sim, sabia e sofria com toda a história.
Cláudia levou assim por algumas semanas. Ouvia de Pedro que seria ele o vencedor. Para este era a história de uma guerra e ele iludia-se quanto à vitória. Sabia isto somente ela, que dia a dia começava a conhecer de fato seu coração. Ela de fato amava Mário, como nunca antes acontecera com outro namorado qualquer. Decidiu mudar seu horário de curso, passar a estudar à noite. Colocou louco o Pedro, viu um choro sentido sendo derramado. Permaneceu firme, porém.
Cláudia não terminou o curso. Casou-se com Mário algum tempo depois, grávida. Foi feliz.
Mais de um ano depois, quando descia por escadas rolantes no Shopping Ibirapuera, viu lá de cima o Pedro que estava subindo, em sentido contrário. Antes que ele a visse escondeu com os cabelos o rosto e virou-se para o lado oposto. Não sabe se ele a viu. Se sim, não lhe veio ao encontro. Teve somente uma certeza: amara também o Pedro, só poderia ser isto. O calor que subiu-lhe pelo corpo, uma súbita tremedeira nas pernas, o instinto de proteger-se de seu olhar... Quis que ele a tivesse visto, que tivesse vindo a seu encontro. Logo descartou a idéia. Não sabia o que poderia acontecer...

Texto velho


15 de setembro de 2005.

Achei ontem, por uma obra do acaso, antigos textos. Fiquei feliz! É bom rever algumas coisas que produzi numa época não tão boa...
Publicarei algumas.

16 de Julho de 1999.

Camaleão

Sabe-se do camaleão ser um zeloso de sua vida. Protege-se conforme o perigo do ambiente, sumindo entre as cores deste último.
Léo cresceu sob os olhares fixos dos pais. Sempre teve bons amigos, em casa. Quando com seis anos de idade, ficava debruçado na janela da sala vendo crianças mais velhas azucrinando a vizinhança. O barulho era durante todo o dia, das nove às dezenove horas. As brincadeiras eram várias: pega-pega, esconde-esconde, empinar pipa, descer a ladeira com carrinhos de rolimã, três toques usando portão de garagem como gol.
Léo saía de carro com os adultos. Acompanhava-os nas compras, visitava parentes. A felicidade era uma visita a casa com crianças. Ia também ao clube onde podia nadar e brincar de bola na quadra, quando não ocupada por adultos.
Na primeira série primária fez um amigo na escola. Era um japonês de nome Wilson. Este fazia de tudo bem. Suas notas eram altas, era o craque do futebol de tampinha de garrafa, desenhava com destreza. Tinha suas preferências para os filmes japoneses. Seus Ultra-Seven eram perfeitos aos olhos de qualquer outra criança da mesma idade. Léo também os achava. Desejava ser como o Wilson em tudo, já que considerava-se parelho somente nas notas escolares.
Léo continuou bom aluno. Da terceira série em diante, o melhor. Era o procurado para explicar matérias, fazer trabalhos, passar cola.
Walter era um gigante. Forte, gordo. Dominava a turma dos insubordinados, dos palhaços, dos mal vistos. Tornou-se amigo de Léo e seu protetor. Léo tornou-se seu suporte para um bom desempenho escolar, um seguidor distante. Sim, porque na hora das coisas erradas, Léo permanecia longe, e bem longe do Walter.
Léo passou ao segundo grau. Atingiu o momento de formar opiniões sobre novos assuntos. Era, porém, de poucas palavras. Participante de um grupo, limitava-se a ouvir sem ser notado, opinava com a maioria. Evitava sempre as polêmicas. Começou talvez aqui florescer seu lado camaleão. Eram poucos os amigos: Marcelo e Geninha, os mais chegados. Já não destacava-se como dantes. Perdeu um ano levado pelas ondas de um mar inesperado. Talvez fossem as ondas, e não o mar, as inesperadas. Mas o fato é que foi levado.
Já no terceiro grau passou por uma de João, da estória de João e Maria. Desenharam-lhe uma armadilha para que caísse. Foi atraído pelos doces, por uma linda casa feita de doces, e foi preso para servir de alimento a uma bruxa malvada. Entrou na história porque não soube ser firme, não soube decidir.
A explicação é simples: desde que entendeu que mais velho haveria de ter uma formação e uma profissão, Léo decidiu e estudou para caminhar em direção à engenharia, arquitetura, ou matemática talvez. Assim concentrou-se até o terceiro ano do segundo grau. Vieram as inscrições para o vestibular. Opção de Léo: publicidade e propaganda. Atraía-o o curso? Ou simplesmente era de menor risco que não passasse? É, há chances de ter sido obra do camaleão a proteger-se de algum perigo. Ou de ser obra do camaleão que não tinha firme opinião e mudava qualquer coisa com qualquer circunstância...
Léo chegou à vida profissional. Perdeu logo o primeiro emprego porque foi levado a participar de uma greve branca. Faltaram todos os funcionários naquele dia sem declararem o motivo. Também não tiveram a oportunidade depois. Foram somente sumariamente demitidos. Por que fora atrás dos outros? Era assim tão inocente? Justificou ao pai com meia verdade. Não era possível assumir a fraqueza de um erro.
Trabalhou depois como assistente numa área administrativa. Foram poucos dias até ser chamado à atenção pelo superior. “Você não presta atenção em seu trabalho e nem no meu, no que estou fazendo! Está sempre de ouvidos nas brincadeiras do Zé e do Edson e rindo com eles! ...” Sim, mais uma vez levado por ondas o nosso camaleão.
Seu primeiro carro não foi o próprio Léo quem comprou. Dele foi somente o dinheiro, não a decisão. Era mais fácil acatar a situação como também não seria motivo de desavença.
O mesmo ocorreu mais tarde, quando Léo teria que decidir a compra de um apartamento. Nada decidiu. Somente executou a decisão por outros tomada.
Num outro ambiente de trabalho a história não mudou. Um dia, quando de sua admissão, foi colocado em dúvida quanto à sua atitude. Trabalhara em duas grandes empresas anteriormente, de modo que o novo chefe escancarou-lhe um medo de que ele colocar-se-ia como superior aos outros, quebraria a motivação ou inibiria a equipe já antiga de empresa. Léo, pelo contrário, como bom camaleão, adaptou-se à nova casa, aos novos padrões, à rotina do novo trabalho. Poderia ter-se exaltado, galgado com afinco algum degrau hierárquico, propagandeado cada bom negócio que realizava pela empresa. Acomodou-se como acomodados eram os demais funcionários. Seu maior conhecimento, sua maior experiência, o que tinha de bom a explorar para o bem próprio e da empresa ficaram relegados ao esquecimento. Léo sentiu orgulho no dia em que o chefe parabenizou-o pela adaptação, por não ter se indisposto com ninguém, pela humildade ao ensinar e aprender...
Léo foi traído em alguns casos. Puxaram-lhe o tapete, como diz a expressão corrente. Não foi uma vez, nem duas. E, que reação? Camaleão, ora pois.
É mais fácil adaptar-se, esconder-se no contexto, ficar calado e imóvel do que reagir de alguma outra maneira, seja ela qual for.
Sabe-se do camaleão ser um zeloso de sua vida. Protege-se conforme o perigo do ambiente, sumindo entre as cores deste último...

Mais um texto da Ailin Aleixo, revista VIP.


14 de outubro de 2005.

AMOR À PRIMEIRA RUGA

Não são só centímetros na cintura que o tempo acrescenta

Sempre gostei de homens mais velhos. É inevitável me sentir constrangida diante da inaptidão dos novinhos. E os piores não são os tímidos confessos ou os atrapalhados evidentes que não sabem onde colocar as sílabas e muito menos as mãos (esses merecem as benesses do olhar bondoso por terem sinceramente tentado o seu melhor). Os que mais me incomodam são os que verdadeiramente pensam dominar arte e técnicas de deixar mulheres trôpegas de desejo mas tudo o que conseguem são interlocutoras abismadas diante de tanta tagarelice inútil. Confesso que sofro de uma incorrigível patologia, a TPT: timidez por terceiros. Morro de vergonha pelo papelão dos outros. Por isso prefiro os coroas. Parto do princípio de que coroas aprenderam a duras penas, com a prática e erros, a seduzir uma mulher. Antes disso, sabem o quanto a sedução é essencial. Sem ela a vida fica prática demais, direta demais, misteriosa de menos. Homens nunca deixam de sofrer ereções involuntárias perante um quadril vasto e rebolante, mas coroas sabem controlar a salivação para não causarem danos psicológicos irreversíveis em suas parceiras – eles já perceberam o quanto um olhar lascivo lançado para o lado deixa sua garota se sentindo mais pra baixo que estação de metrô.


BOM DE LÍNGUA
Nunca liguei para bíceps torneados e fôlego de maratonista e não suporto a vaidade excessiva de machos que tenham nécessaires maiores que a minha (graças ao bom Deus que nem todos aderiram à deprimente moda de passar creminhos, fazer luzes no cabelo e desfilar por aí com base na unha – metrossexualismo é coisa de boiola). Troco facilmente uma barriga tanquinho pela habilidade raramente adquirida aos 20, conquistada lá pelos 30 e aprimorada depois dos 40, intitulada “cumplicidade”. O acúmulo dos anos de vida em um homem pode aumentar a quantidade de células adiposas na barriga, mas também aumenta a quantidade de informações para entender a alma feminina (pelo menos o mínimo necessário) e a paciência para lidar com suas idiossincrasias. E essa habilidade resulta em algo quase mágico: a vontade de estar com uma mulher por ter afinidades reais com ela, sonhos e gostos em comum, e não por ela ser um prêmio adormecido ao seu lado na cama, uma bunda marmórea que ele pode se gabar de ter apalpado. Coroas já tiveram, pelo menos, mais tempo de deixarem de ser fúteis. Apesar de alguns não tomarem jeito nem assim... Acima de tudo, gosto de homens mais velhos por saberem usar a língua. Eles sacaram que ela é a responsável por elogios derretedores de gelo, conversas inesquecíveis, frases memoráveis e por transformar noites tediosas em momentos cheios de lembranças gemidas e úmidas. Mas os garotos têm uma grande vantagem: um dia eles serão quarentões e terão aquele charmoso ar grisalho de quem já não precisa provar (quase) nada para o mundo e o olhar sacana que torna supérflua qualquer tentativa de resistir a ele.

Bom dia!


14 de outubro de 2005.

É, parece que eu não consigo mesmo dormir muito. Ontem (que na verdade já era hoje), apaguei mais cedo. Depois do sono, porém, o relógio marcava cinco horas.
Bem, os dois textos que coloquei aqui hoje já comprovam o horário, comprovam que madruguei.
Parece que o dia vai ser bom. O "bom dia" que falei no elevador foi respondido com um outro, sonoro e animado. Diferente dos outros vizinhos. Na garagem vi um beijo de saudades, longo e apertado. Na rua já vi beleza. O sol já bate forte e também parece estar bem animadinho.
Esperar para ver!

Pedaço de um texto


14 de outubro de 2005.

Essas duas, Ailin e Gisela...

PINGA NI MIM
Ailin Aleixo

"Bebo para empatar com o mundo", como diria Paulo Mendes Campos. Todos precisamos de embriaguez. Alguns a conseguem rezando, jogando futebol, fazendo sexo, pintando. Tudo é a mesma coisa: necessidade de sair da realidade, de dar um pause na roda incessante dos pensamentos. Por isso a mesa de bar é tão mágica: ela nos transporta para outra dimensão em questão de minutos, alivia o peso do cotidiano, dos problemas e prazos, reúne amigos que vivem enjaulados em suas existências.
...
Não consigo entender quem não se dá o direito de perder as estribeiras vez por outra, que supõe ficar sob controle período integral (presunção bem irreal, aliás). Que chato deve ser viver ao lado de alguém que não compreende o prazer do primeiro gole em um chope cremoso, a delícia de esquecer calorias, brigas e tempo ruim e largar-se a sociabilizar sem preocupações pessoais nem gramaticais. Não entra na minha cabeça quem prefere dormir cedo a curtir um animado papo bem regado até mais tarde.

A Revanche de Goldfinger


14 de outubro de 2005.

A Revanche de Goldfinger
A mina anda concorrendo ao Oscar de efeitos sonoros? Dedos à obra!
Gisela Rao, revista VIP

Calma, leitor! Esse assunto é delicado e é melhor você se sentar. Antes que enfie o joystick do seu PlayStation na minha orelha, lembre-se: sou apenas uma caçadora de lendas femininas urbanas que acompanha pesquisas. E você sabe: pesquisas são como cartas, quase nunca mentem. Bom, segundo as últimas pesquisas do meu Centro de Estudos com sedes em Tóquio, Nova York e Quixeramobim, cerca de 30% das mulheres não têm orgasmo nas relações sexuais. Logo, se todas as suas namoradas chegaram até o pico do K2 - a montanha da morte no Himalaia - e voltaram, ou você é a reencarnação do dom Juan ou pode até se candidatar para arrancar a espada do rei Artur da pedrona (coisa que só os de coração puro conseguem). Mas não se culpe caso você tenha (com sorte) sido 30% enganado. Fingir orgasmo é fácil demais, tão fácil como abrir vidro de requeijão hoje em dia (com aquele plastiquinho que solta o ar). Acho que nem uma mulher saberia quando outra mulher estivesse fingindo. Agora, o que faz a sua namorada não ir pra lá de Bagdá?


O CARINHA BATUTA
Fatores de que você não tem culpa:
Ela é super-religiosa e reza para o sexo acabar logo.
Ela acha que só você tem direito a prazer nessa vida.
Ela quer mostrar que é uma verdadeira dublê de mina de filme pornô e esquece de ter prazer.
Ela é mais bloqueada do que o Bush na hora de enviar socorro às vítimas do furacão em Nova Orleans.
Fator de que você tem culpa:
Você desconhece totalmente o clitóris. Amigão, o clitóris é o bom companheirinho da "Chechênia". É ele que faz a mulher ter orgasmo e ele é um cara aberto. Aberto para vocês dois conversarem. Ué, você não fala com seu pinto, não dá nome para ele? Então por que não fazer o mesmo com o minipintinho da sua mina? O clitóris joga a favor, é um cara batutinha. Tipo esses amigos que têm sempre uma cerveja gelada na reserva ou que te apresentam aquele descontrole de amiga morena cheia de amor para dar.
Com o clitóris não tem mistério: ou você engata a primeira marcha ou a quinta de vez. E, veja bem, quem define a intensidade da boa ação é a moça que, no caso, está ao seu lado na cama.
Você pode ir perguntando igual o oculista faz na hora em que a gente vai experimentar óculos: "Assim tá bom? Melhor assim?" Claro, não precisa exagerar, vai sacando a coisa devagarzinho. Mas é sempre bom estar bem treinado, tipo aquele atleta, o Wanderlei, porque tem mulher que é uma verdadeira maratona. Demora um tempão para gozar e dedo, infelizmente, não vem com compartimento para pilha Duracell.
Se você ficar muito cansado, não se preocupe: cante um pedaço daquele trechinho do comercial de avião: "Anda um pouquinho, pára um pouquinho, 550 quilômetros…" Você vai ver como terá valido a pena seu esforço, seu amor, sua dedicação. Sim, amigão, essa mina será fiel a você a vida toda e vai contar pra todas as amigas dela: "Ele é o cara. Ele é o cara. Tremendo Goldfinger".
Curtiu a coluna? Acha que a colunista anda tomando drinque suspeito em rave? Dê sua opinião. Caixa postal de colunista é que nem coração de mãe: cabem todos. Pela órdi…

Relacionamentos


13 de outubro de 2005.

Como leitor da Dija, li sobre um casamento. Ela pensa, ou sonha, com o dela. Que bom!
Penso no ficar versus o namoro. Do namoro é que vem o noivado e, depois, o casamento.
Os anos vão caminhando e o ficar tem superado o namoro. Parece que não existem mais as pessoas que querem um relacionamento mais duradouro. Parece, mas não é! Ainda existem sim, estas pessoas! A dificuldade, a meu ver, é se encontrarem.Visualizo uma balada. É como se ali no meio existissem essas pessoas, mas estão misturadas a uma massa. A massa impede os encontros. A massa só quer beijar, se amassar, ficar louco, sentir o calor de outros corpos, sentir tesão. E aí, morre. A próxima será a mesma coisa.
Por que quem procura algo mais estável não encontra o seu outro? Assim, com o ficar vencendo, ficará cada vez mais difícil. Mas penso que não impossível. Ainda acredito no amor. Ainda acredito nos relacionamentos verdadeiros e que vivem através dos anos. É bom. Melhor ainda seria se os homens procurassem entender as mulheres. Mas não procuram. A mulher é tão doce, tão maravilhosa! Mulher precisa ser tratada com carinho. Não aos trancos (e barrancos).
Convivo com casais cujo relacionamento não é aquele mar de rosas. Culpa do homem, no meu entender. Está certo que mar de rosas, também, não existe sempre. Haverá sempre uma ou outra onda forte, talvez até tempestade. Mas dá para ser melhor! Eu, ao menos, me esforço para isso. E que boa fica a vida quando a gente ama, demonstra o amor, faz de tudo para que os conflitos fiquem longe. Que boa é a maré tranqüila...
Compartilhar a vida com alguém é necessário. Cada um de nós precisa.
Viva o diálogo. Viva o entendimento. Viva o amor. Viva o relacionamento. Viva a vida!
Parece, mas não é um sonho. Desejo que todos entendam assim, procurem, nunca desistam.

Velhas guerras


11 de outubro de 2005.

Eu tinha lá meus sete anos de idade. Maria do Carmo era uma linda loirinha da classe do meu irmão. Eu cursava a primeira série primária. Nesta fase a gente diz que namora e tudo acontece somente em troca de olhares. Assim eu achava que ela era a minha namorada.
Pedro Américo era um menino também da mesma classe. Menor que eu, portanto. E nós brigávamos pela Maria do Carmo. Meu irmão me ajudava e ele também tinha seus ajudantes. Todos os dias, na hora do lanche.
Já se vão mais de trinta anos. Penso que se eu e Pedro nos encontrássemos hoje, a birra permaneceria. A gente guarda os inimigos. A gente guarda as rivalidades. A gente guarda as diferenças. Milhares de dias se passam e a gente não esquece. Até coisas de criança ficam guardadas. Lá, num porão qualquer dentro de nós. Os anos, porém, podem ter guardado as chaves e, quando menos se espera, ressurge aquela coisa ruim.
Por que somos incapazes de começar de novo? Será que até o fim os santos nunca vão bater? Antipatia eterna?
...
Nada parecido aconteceu comigo nesses últimos dias. Aconteceu com a Clau, no Orkut. Uma antiga rixa, coisa de mais de quinze anos, voltou à tona.
Chega a ser engraçado, se não existisse o lado péssimo. Chega a ser ridículo.

Pequenos mundos


11 de outubro de 2005.

Um amigo só tem um assunto: softwares. O primo deste só fala em carros.
Na academia, quando chega o Diego, o tema é Corínthians.
A sogra só fala em jogo, ou bingo, ou cartas, e nas amigas que jogam. Às vezes fala dos netos, do que um ou outro aprontou.
Outro dia a TV Globo trouxe um senhorzinho, lá do interior do Mato Grosso (eu acho que era Mato Grosso), para São Paulo e Rio. Ele, com seus mais de setenta anos, vivera sempre a mesma vida na roça e queria conhecer a cidade grande e, principalmente, o mar. Deslumbrou-se. Ao encontrar, em plena avenida Paulista, com um desses atores que fazem-se de estátuas, não acreditou que fosse gente de verdade.
Sentei num boteco para almoçar, certo dia. Ao meu lado, três garotos. Eu não entendia nada do que falavam. Com o tempo, achei que o assunto fosse algum game, jogado numa das lan-houses de São Paulo.
Pois é assim. Penso que cada pessoa vive com seu mundo. Cada um parece ter seu pequeno mundo. O de alguns é muito pequeno, o de outros, maior um pouco.Muitas pessoas fazem questão de usar ante-olhos. Não querem enxergar além de um certo limite. Basta-lhes seu próprio horizonte.
Ontem falamos disso por um pouco, eu e uns amigos. Um deles, fazendo graça, perguntou: "E o meu, qual é o meu mundo?" Eu respondi que talvez fosse um picadeiro. É só palhaçada, o tempo todo. Será que nem um minuto pode ser mais sério?
Fiquei pensando no meu. Não somente em qual é o meu, mas no tamanho que ele tem. Até onde vai meu horizonte?
Por que a maioria das pessoas fica estacionada? Comodismo? Falta de interesse? Por que os horizontes não se ampliam?
E os dias passam. A vida vai ficando sempre aquela mesma vidinha... Que monótono!

Preguiça


10 de outubro de 2005.

Há dias em que não deveríamos sair da cama...
Pessoas dizem isso, por exemplo, quando têm um dia ruim, daqueles em que nada dá certo. Outras dizem quando o dia está feio, nublado, frio, quando a tempestade é ao pé da letra e não somente nos afazeres. Outras dizem quando há preguiça. Sabe aqueles dias em que você não vê a hora passar? Pois é! Há os que as horas não passam... Você está louco para que o dia acabe e os ponteiros insistem em não andar. Parece que estão na "operação tartaruga" do metrô, vésperas de greve.
Meus últimos dias têm sido assim, meio preguiçosos. Falta vontade. Prendo-me somente ao meu mundo e quero todas as janelas fechadas.
São dias ruins, de pouca produção. Até a mente parece estacionar. Boring. Textos também não saem. Pensamentos. Boring.

Banana!


7 de outubro de 2005.

Eu disse que seria o meu último almoço naquele lugar. Coisa cara! Além do que, quando se trata dos self-service, preço por quilo, eu acabo me acabando... Meu estômago fica feliz, meu bolso inversamente proporcional.
Comemos. Estávamos eu, o Vlad, e nossas quatro companheiras de trabalho.
- Sobremesa?
- Traga o cardápio, por favor.
- Três bananas fritas!
Eu nem me lembro das outras pedidas, mas eu e o Vlad ficamos só no cafezinho. Nada de doces!
A certa altura, Vlad:
- Beth, Beth, banana engorda e faz crescer!
E eu:
- Banana cresce e faz engordar também!
Que sutileza!

Maradona


5 de outubro de 2005.

Estou para escrever desde que o astro argentino começou seu programa de TV.
Os fanáticos jamais entenderão. Entenderão somente aqueles que mais do que a paixão por uma camisa, amam o bom futebol, a arte, o talento, a mágica.
Quando nasci, Pelé ainda jogava. Quando comecei a entender, não o vi. Já era o início da época do Cosmos.
Vi o Zico, depois Maradona, depois Romário. No meio deles, Mário Sérgio. Esse, na minha opinião, menos falado e exaltado pela mídia do que merecia e deveria. Lembro-me do jogo que o Grêmio disputou em Tóquio: um espetáculo de Mário Sérgio!
Para não faltar na minha lista, dos mais novos é inevitável falar de Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Robinho.
Esses, para mim, foram e são os gênios, os mágicos!
Dos lances que já vi do Gérson, admirei a precisão de cada lançamento a longa distância. Do Garrincha, os dribles que o adversário não via.
Bem, voltando ao Maradona, os fanáticos que me perdoem, mas foi lindo vê-lo jogar! Eu o admirei até quando jogou contra o Brasil. E torcia por ele.
O que quero dizer, e meu texto já se estendeu para além da conta, é que quando esse homem se meteu com drogas foi uma droga! Fiquei triste de ver como se acabava. Parecia nem querer ou aceitar tratamento. A Argentina comoveu-se. Morte. Eu já estava vendo a sua. Seria triste como a do Garrincha, que não teve correção. Não mais acompanhei o caso. Ouvi, vez em quando, alguma notícia, má notícia.
É bom vê-lo agora, mais em forma, com uma boa fisionomia, rindo, brincando, fazendo arte com a bola!
É bom vê-lo dançando com a Xuxa e outros muitos baixinhos!
Viva, Maradona, viva!

Macaca pára de fumar


3 de outubro de 2005.

Foram dezesseis anos de vício. Quando os funcionários do zoológico de Xian (China) viram que o tabagismo estava deteriorando a saúde da macaca, projetaram um intenso programa de atividades para que ela esquecesse dos cigarros: passeio depois do café da manhã, sessão de música pop depois do almoço, ginástica depois do jantar e comida duplicada, acrescentando à tradicional dieta de arroz, leite e bananas, pratos de comida frita e os típicos raviolis do norte da China. Deu certo! Ai Ai, como é conhecida, largou o vício!
O que a matéria não diz: quantos quilinhos a mais ela ganhou? Está certo que o programa inclui exercícios físicos, mas...
Dizem que quem pára de fumar, engorda. Há, inclusive, testemunhos, como o da Lucia do Frankamente (texto do dia 30 de setembro).

Lucia, adoro seus textos!
Ah, a notícia estava hoje no UOL!