quarta-feira, março 14, 2007

Mais um texto da Ailin Aleixo, revista VIP.


14 de outubro de 2005.

AMOR À PRIMEIRA RUGA

Não são só centímetros na cintura que o tempo acrescenta

Sempre gostei de homens mais velhos. É inevitável me sentir constrangida diante da inaptidão dos novinhos. E os piores não são os tímidos confessos ou os atrapalhados evidentes que não sabem onde colocar as sílabas e muito menos as mãos (esses merecem as benesses do olhar bondoso por terem sinceramente tentado o seu melhor). Os que mais me incomodam são os que verdadeiramente pensam dominar arte e técnicas de deixar mulheres trôpegas de desejo mas tudo o que conseguem são interlocutoras abismadas diante de tanta tagarelice inútil. Confesso que sofro de uma incorrigível patologia, a TPT: timidez por terceiros. Morro de vergonha pelo papelão dos outros. Por isso prefiro os coroas. Parto do princípio de que coroas aprenderam a duras penas, com a prática e erros, a seduzir uma mulher. Antes disso, sabem o quanto a sedução é essencial. Sem ela a vida fica prática demais, direta demais, misteriosa de menos. Homens nunca deixam de sofrer ereções involuntárias perante um quadril vasto e rebolante, mas coroas sabem controlar a salivação para não causarem danos psicológicos irreversíveis em suas parceiras – eles já perceberam o quanto um olhar lascivo lançado para o lado deixa sua garota se sentindo mais pra baixo que estação de metrô.


BOM DE LÍNGUA
Nunca liguei para bíceps torneados e fôlego de maratonista e não suporto a vaidade excessiva de machos que tenham nécessaires maiores que a minha (graças ao bom Deus que nem todos aderiram à deprimente moda de passar creminhos, fazer luzes no cabelo e desfilar por aí com base na unha – metrossexualismo é coisa de boiola). Troco facilmente uma barriga tanquinho pela habilidade raramente adquirida aos 20, conquistada lá pelos 30 e aprimorada depois dos 40, intitulada “cumplicidade”. O acúmulo dos anos de vida em um homem pode aumentar a quantidade de células adiposas na barriga, mas também aumenta a quantidade de informações para entender a alma feminina (pelo menos o mínimo necessário) e a paciência para lidar com suas idiossincrasias. E essa habilidade resulta em algo quase mágico: a vontade de estar com uma mulher por ter afinidades reais com ela, sonhos e gostos em comum, e não por ela ser um prêmio adormecido ao seu lado na cama, uma bunda marmórea que ele pode se gabar de ter apalpado. Coroas já tiveram, pelo menos, mais tempo de deixarem de ser fúteis. Apesar de alguns não tomarem jeito nem assim... Acima de tudo, gosto de homens mais velhos por saberem usar a língua. Eles sacaram que ela é a responsável por elogios derretedores de gelo, conversas inesquecíveis, frases memoráveis e por transformar noites tediosas em momentos cheios de lembranças gemidas e úmidas. Mas os garotos têm uma grande vantagem: um dia eles serão quarentões e terão aquele charmoso ar grisalho de quem já não precisa provar (quase) nada para o mundo e o olhar sacana que torna supérflua qualquer tentativa de resistir a ele.