segunda-feira, maio 28, 2007

Mortos


8 de dezembro de 2005.

- Você sabe quantas vezes eu andei por um cemitério atrás de um caixão?
- Quantas?
- Esta é a segunda.
- Qual foi a outra?
- Meu primo. Lá no Rio.
Enquanto ocorria o sepultamento fiquei olhando as pessoas. Fiquei olhando as árvores e suas folhas verdes que balançavam muito com o vento frio. O fim de tarde estava cinza. A gente pensa na vida e na vontade de viver. Pensa em quanto se estraga, minimizando o tempo de chegar até ali. Quanta merda a gente faz. E quantas coisas boas também. Quantas lágrimas derramamos e quantos sorrisos demos. Vi apenas uma lágrima dos olhos orientais do meu amor. Olhava para o Mateus, o filho de três anos que ficou. Quase podia ler seus pensamentos...
...
- Você viu sua namoradinha?
Nem respondi. Ela continuou:
- Ela cumprimentou você?
- Nem eu a ela...
Revi Viviane. Nem olhei muito. Nossos olhos apenas se cruzaram por dois segundos, talvez três. Mas foi como se não nos conhecêssemos. A borracha passou por cima. Percebo que para ela tudo foi um nada. Para mim, onde restava arrependimento e algumas poucas lembranças, está vazio agora. É mesmo como se os dias não fizessem parte da história, como se nem tivessem existido. Mortos. Como muitos daquele cemitério.