quarta-feira, dezembro 27, 2006

A segunda Cláudia


4 de agosto de 2005.

Foi assim, do nada, que me lembrei da terceira Cláudia. Na verdade, depois de voltar com minha mente no tempo, foi a segunda.
As mulheres, não sei bem se a maioria ou se somente as românticas, gostam de adotar uma música como tema de uma relação. Será aquela que, quando ouvida, naquele tempo ou anos depois, fará a memória retornar aos lindos dias, aos momentos felizes, a detalhes que ficaram escondidos em algum lugar.
Bem, ela era noiva de um Júnior. O cara tinha carro, coisa rara entre os da nossa idade, mas não era daqueles que gostam de aparecer. Era simples, sempre com um sorriso no rosto. Eram noivos, ao que me constava, havia tempos.
Às vezes há algo acontecendo bem ao nosso lado e a gente nem repara. Às vezes sabemos de coisas que a pessoa que está bem ao nosso lado nem imagina. Às vezes sentimos algo especial pela pessoa que está bem ao nosso lado e deixamos por isso mesmo.A segunda Cláudia, um dia, disse que precisava conversar comigo. Perguntou-me se eu poderia ir até a casa dela. Era "um dia de domingo".
"Eu preciso te falar, te encontrar de qualquer jeito, pra sentar e conversar".
E eu fui. Nós apenas nos cumprimentávamos e nada mais. Nunca havíamos travado qualquer conversa que tivesse durado mais do que dois ou três minutos. O que eu apenas sempre pensara é que ela era graciosa, uma pequena delicada, gostosa. Essa última expressão eu nem gosto de usar e já escrevi sobre isso. Gostosa só pode dizer quem experimentou e não apenas pelo que se vê. A forma não necessariamente tem relação com o desempenho. Pode ser linda a mulher, cheia de curvas estonteantes. Mas o desempenho? Quem sabe? Pode ser direta ou inversamente proporcional...
Cheguei. Ela não demorou muito tempo. Foi quase direto ao assunto. "Eu preciso respirar o mesmo ar que te rodeia, e na pele quero ter o mesmo sol que te bronzeia. Eu preciso te tocar e outra vez te ver sorrindo..."
"Eu preciso descobrir a emoção de estar contigo, ver o sol amanhecer e ver a vida acontecer como um dia de domingo..."
Fiquei, a princípio, sem saber o que pensar, o que dizer, o que fazer. Eu, naquele momento, era aquele que nem reparara, nem imaginara. Eu era virgem e ainda o seria por muito mais tempo depois. Virgem de cabeça, virgem de sexo.
Cedi naquele "dia de domingo", naquela escada fria do prédio. Abracei, beijei, senti o perfume mais de perto, fiquei com vontade de mais. Mas por ali ficamos. A tarde foi passando e a gente se beijando. Um beijo suave, uma língua pequena. Eu não a quis depois. Quis e não quis. O fim da história foi naquele "dia de domingo".
Ela terminou o noivado. Talvez porque tivesse tido a certeza de que seu coração não estava lá. Talvez por saber que se não fosse ali, naquele momento, mais tarde seria realmente tarde. Depois não me lembro se voltou.
Essa foi a história da segunda Cláudia. Eu nem me lembrava. Mas foi bom lembrar.