quarta-feira, dezembro 06, 2006

Degenerativo


6 de junho de 2005.

Fiquei por um bom tempo sentindo tristeza. Abatido. Meu pensamento, embora viajasse e passasse por inúmeras estações, periodicamente voltava ao mesmo ponto: as palavras do médico.
Passei por muitas consultas e muitos exames. Nesses últimos aparecia sempre uma “alteraçãozinha”, mas nada de anormal. “Você não tem nada” foi o que ouvi nessas muitas vezes.
Empurrei a situação por muito tempo. Na verdade, desanimado por ninguém achar nada e por preguiça do outro lado.
O corpo já vinha sentindo dores há anos. No início pensei que pudesse ser esforço demasiado por carregar no colo meu filho. Imaginei que pudesse ser coluna e, mesmo depois do colo abandonado, que continuara a sentir os reflexos.
Voltei ao futebol. Em torno de vinte anos se passaram desde a minha parada até esse meu retorno. Já não tinha forças, disposição, fôlego. Cinco minutos em campo eram suficientes. Mas era uma questão de voltar à forma, pensei. Por recomendação médica iniciei numa academia. Comecei a ganhar, ou recuperar, um pouco de vigor.
Num jogo, futebol society, torci de leve o pé direito. No mesmo dia fui ao hospital. Radiografia? Aproveitei para pedir uma do pé esquerdo. Queria saber porque meu dedo estava tão torto. Será que eu havia quebrado e deixado por isso mesmo? Bem, não era só o dedo. Meu pé esquerdo estava torto. Cada dia mais. Meu dedo, segundo o médico, estava sem cartilagem entre dois ossos. Sumira. E a do pé direito caminhava na mesma direção.
Mais alguns dias. Mais uns jogos. Foi só até meu joelho deixar.
É, um dia o meu esquerdo inchou. Exames. Ressonância magnética. Os instrutores da academia viram o resultado com o rosto meio retorcido. O que viram não agradou. Recomendaram parar com exercícios para a perna até que um especialista fosse ouvido.
Pronto. Cheguei ao início do texto de hoje.
Marquei com o Doutor Antônio para o dia primeiro de junho, treze e dez da tarde. Cheguei uns dois ou três minutos atrasado. Até preencher ficha e aguardar a chamada o relógio chegou às treze e trinta. Conversa. Análise dos exames. Resultado: estou desenvolvendo uma artrose, uma doença degenerativa. Para o meu tamanho tenho ossos grandes, maiores do que deveriam ser. Segundo o Houaiss, artrose é “processo degenerativo de uma articulação”. No meu caso, de várias articulações. O médico pediu para que eu investigasse sobre herança genética. Solicitou dezesseis exames de sangue. Ainda voltarei para outra conversa.
Uma coisa já foi dita: não há o que fazer. Só posso ser ajudado com medicamentos e, talvez daqui a doze ou quinze anos, cirurgia corretiva. Fiquei por um bom tempo sentindo tristeza. Abatido. Meu pensamento, embora viajasse e passasse por inúmeras estações, periodicamente voltava ao mesmo ponto: as palavras do médico.
Tenho que vencer!
Mente saudável, corpo saudável...