quinta-feira, outubro 19, 2006

"Que é um pai, afinal?"


28 de dezembro de 2004.

Outro texto sobre o mesmo tema (também recebido de Ricardo I.)

Erma Bombeck

"Aconteceu uma coisa incrível quando a gente se divorciou. Conhecem o gênero, o pai que não ficou com os filhos, que não parava muito em casa, mas também quem é que sentia a falta dele? As crianças sentiam. Por que razão? Ele não ajudou a mulher a fazer respiração quando o filho nasceu. Estava lá fora na sala de espera, fumando um cigarro com um cara que vendia imóveis. Nunca sabia onde é que estavam as fraldas e quando punha o bebê para arrotar parecia que tinha um tijolo na mão. Quando as crianças se sentavam na beira da calçada à espera que ele chegasse do trabalho, limitava-se a passar-lhes a mão pelo cabelo e a dizer: "Como é que é, bicho?" Era assim.
Sempre que um filho chorava, sabem o que é que ele fazia? Gritava para a mãe: "Tem algum grilo. Ele está atrás de você." Nunca lhe passou pela cabeça que a criança estava a fim era dele mesmo. De vez em quando, parecia querer beijar os filhos, especialmente quando se machucavam ou ao deitar, mas acabava se retraindo. Muitas vezes dava a sensação de que não se achava importante... mas que era apenas alguém por quem se esperava até chegar em casa para que ele pudesse passar uns tremendos carões nos filhos.
Como mãe, pergunto a mim mesma qual será essa qualidade mágica, indefinível, que os filhos vêem nos pais. Será a força das mãos que eles acreditam que nunca os deixarão cair quando os atiram no ar? Será a calma que ele traz a um confronto impetuoso quando pergunta aos filhos o que pensam antes de fazer um julgamento? Talvez eles consigam enxergar o medo que está bem lá no fundo, que nunca vem à superfície, ou a lágrima que está lá, mas nunca é derramada, ou talvez o amor que raramente é acompanhado de palavras.

Sinceramente, não compreendo. Como mães, ensinam-nos que o amor e o respeito têm de ser merecidos. Eu sei que o que os pais não fazem, mas que fazem eles para merecer esse respeito e amor? Sem passar a ferro uma camisa, fazer um bolo de aniversário ou ler uma história, eles ocupam um lugar alto na existência de um filho. Será possível que as crianças tenham a sensação de um ser humano único que esteve presente no início e que estará até o fim e que não será uma mãe - mas que cumprirá essa função rara que é a de pai? Não compreendo. Mas as crianças sim.