quinta-feira, outubro 19, 2006

Minha história sobre o mundo ser pequeno


9 de dezembro de 2003.

Muita gente diz: "Como esse mundo é pequeno..." Hoje, descendo mais uma vez a Consolação vinha ouvindo dance music. Lembrei-me da Renata, minha história sobre o mundo ser pequeno.
Estava só em São Paulo e meu irmão ainda era solteiro. Saíamos vez em quando para paquerar. Já na época, pelos lugares onde íamos, sentia-me deslocado por ter mais idade. Resolvemos ir, certa noite, ao Resumo da Ópera que hoje já não mais existe. Shopping Eldorado. Nem eu nem ele, meu irmão, dançamos nada. Até hoje.
Lá pelo meio da madrugada, de olho na pista, surgiu um espetáculo de mulher. Linda, elegante, sorriso largo, cabelos soltos, dançando e não só dançando, mas dando o show. Parecia não estar acompanhada. Meus olhos fixaram-se rapidamente e cutuquei com a mesma velocidade meu irmão. Ficamos ali, parados, vidrados. Não me lembro de como e nem de quando nos dispersamos. Talvez somente quando ela saiu da pista e desapareceu em meio à multidão.
A noite continuou a passar. Lá pelas três da manhã resolvemos ir embora. Na fila do caixa, surpresa: ela à nossa frente. "Vamos seguir!", sugeriu meu irmão. O estacionamento já estava vazio. Os carros estavam distantes e lembro-me de dois caras que a abordaram por ali. Ela não deu atenção. Saímos. Rebouças na maior loucura. Ela pisava fundo e eu atrás, até parar no meio do cruzamento com a Henrique Schaumann. Meu irmão já ia falar algo e não deu tempo. Nova disparada até uma rua menor. Pela janela do carro meu irmão sugeriu: "Vocês parecem estar perdidas..." Era ela e mais uma garota no carro. Quando falaram que realmente estavam e, perguntadas sobre que destino queriam, propusemos a guiá-las até lá. Alguma rua da Vila Mariana, o que para nós era fácil por ser também nosso caminho. Quando finalmente chegamos, emparelhamos os carros e meu irmão começou a conversa. Logo soube que estava perdida por ser do Rio de Janeiro. A conversa caminhava e ouvi, lá do meu canto, que trabalhava nas Lojas Americanas, setor de compras de perfumaria. Não pude conter-me. Era minha concorrente direta, profissionalmente falando. Saí do carro e continuamos a conversa por um pouco... Coincidência. Mesmo universo, mesmos fornecedores, os dois principais do mercado. Mundo pequeno.
O tempo passou. Certa manhã, não me lembro se de sol ou chuva, o chefe me chamou à sua sala. "Quer dizer que você anda por aí, nas noites, paquerando as menininhas..." Nada entendi a princípio até que ele mesmo me explicasse. Contou toda a história sem mencionar nomes e depois lançou-me a pergunta: "Você sabe de quem estou falando?" "Renata", respondi. "O senhor a conhece?" "Estou entrevistando-a para trabalhar aqui conosco..." Tanta gente e o cara entrevista justo ela? Coincidência. Mundo pequeno.
Alguns dias mais vieram. Cabeça baixa, concentrado em meus afazeres, fui surpreendido pelo chefe: "Aí, Júnior, veja quem está aqui!" Era ela: Renata. Sentou-se à minha frente e trocamos algumas palavras. Falou sobre vir para São Paulo, da proposta a ser estudada. E eu estava prestes a sair daquela empresa...
Mudei cerca de um mês depois. Fui para o mesmo departamento no qual havia me especializado: perfumaria. Passados alguns dias, Márcia, minha amiga, veio dizer-me que estava preparando uma assistente para mim, muito boa, que viria das Lojas Americanas...
Não preciso dizer mais nada... O mundo é pequeno mesmo.