sexta-feira, setembro 15, 2006

Sensação de suspense


19 de março de 2.002.

Aconteceu no domingo, dia dezessete. Eu tinha um compromisso e havia marcado um encontro na estação Vila Madalena do metrô às oito e trinta da manhã. Saí de casa tranqüilo, camisa social de mangas compridas, apesar do calor. Aliás, diga-se, a temperatura prometia subir ainda mais. Viajei pela linha azul até a estação Ana Rosa e mudei de trem para a linha verde. Não me lembro muito bem da seqüência das estações mas, quando chegamos à ante-penúltima do meu destino, o vagão esvaziou. A princípio não me dei conta. As portas do trem se fecharam e mais um trecho começou a ser seguido. Quando levantei a cabeça é que vi: eu estava sozinho. A velocidade do trem pareceu-me muito maior. Olhei para a esquerda, olhei para a direita. Olhei para frente. As paredes corriam pelo lado de fora das janelas. Olhei novamente para a esquerda e para a direita. Senti solidão. Senti abandono. Experimentei um sentimento de suspense. Parecia que algo iria acontecer. Eu não sabia bem o quê. Talvez uma batida, talvez uma invasão de seres estranhos, talvez uma rajada de vento forte, destruidora. Não havia pessoas senão eu. Parecia haver espíritos comigo. Coisa pesada. Meio assustadora. Senti-me dentro de um filme.
O trem parou na penúltima estação. Sumaré. Na plataforma ninguém. Ninguém entrou. As portas se fecharam mais uma vez. Mais um trecho. Mais sensações de suspense. Mais velocidade, paredes correndo lá fora. Mais sentimentos estranhos. É meio inexplicável o que senti... Chegou a Vila Madalena. Desci. Enquanto caminhava pela plataforma, subindo depois as escadas rolantes, senti um desejo estranho de repetir a experiência, sentir as mesmas sensações. Talvez eu repita qualquer dia. Talvez eu fotografe o vazio. Pena que fotos não revelem a plena realidade. Pena que fotos não traduzam sensações...