quarta-feira, agosto 09, 2006

Solidão


11 de fevereiro de 2002.
Queria ter escrito isso há dois dias. Foi o sábado de carnaval. O dia amanheceu chuvoso e eu com a boca amarga. Boca amarga eu acho que é normal para qualquer pessoa quando acorda, mas a minha permaneceu assim durante o dia. Acordei também com vontade de sexo, mas não com quem estava ao meu lado. Foi o típico dia em que a vontade para ir trabalhar estava bem próxima do zero. Passei todo o tempo na rede. Depois que o relógio girou e chegou finalmente na hora de eu ir embora, minha vontade de voltar pra casa estava pequena. Resolvi almoçar ali por perto mesmo. Para quem estiver estranhando explico: trabalho somente meio período aos sábados, mais precisamente até às treze horas.
Peguei uma mesa solitária, frente para uma janela que dava a visão da rua. O trânsito estava tranqüilo na cidade grande abandonada. O tráfego de pessoas também não estava intenso. A chuva passou por algumas horas. Fiquei por ali, lendo Cem Anos de Solidão enquanto esperava meu prato. Comi devagar observando a rua. No restaurante também havia poucas pessoas. Um japonês sentou-se mais ou menos em minha direção e fumando começou a me olhar. Ignorei. Talvez fosse veado, coisa que não me diz nada. Eu detestava a raça, mas aprendi a somente respeitar a escolha sexual de cada um. Meu negócio continua sendo somente mulher. Continuei a olhar para a rua. Lembrei-me do dia 12 de janeiro. A diferença básica era que naquele dia eu cheguei num restaurante às três horas da manhã. Em ambos os casos eu estava sozinho. Na madrugada de janeiro acompanhado somente dos garçons e pessoal do restaurante. No sábado, além do pessoal do lugar, uns poucos clientes como eu. O sentimento de solidão é que era o mesmo. Pensei, nas duas ocasiões, numa paixão louca que me assaltou meses atrás. Onde ela estaria? O que estaria fazendo? Será que se lembra que eu existo? Pensei em sair dali e ir para o Palestra Itália: Palmeiras e Santos. A chuva voltou. Sozinho, debaixo de chuva? Não, melhor desistir da idéia. Aliás, além dos dois detalhes, mais um: com um livro em mãos eu não entraria no estádio. É, produto que pode gerar fogo. Comprei um Halls antes de sair para a rua. Talvez a amargura da minha boca fosse embora... Voltei devagar para casa. Quando cheguei, ninguém. Também não liguei para saber onde estavam ou se demorariam para chegar. Liguei o som, fui estudar um pouco. Pois é, poderia ter escrito sobre minhas sensações no mesmo dia. Não o fiz. Não estava a fim...