segunda-feira, junho 04, 2007

Filme


3 de março de 2006.

- Como sabe o nome dela?
- Porque está usando “Floris”. Uma colônia inglesa. Mas o sotaque dela é da Califórnia. Garota da Califórnia que queria ser inglesa. E eu a chamo de Daphne. Grandes coisas podem acontecer ao seu trocinho.
- Ouça, coronel, eu o levo a Nova York. Depois, preciso voltar.
- Faça o que quiser, Chuck.
- Charlie, está bem? Ou Charles.
- Perdão. Não o culpo. Chuck é meio...
- Por que vamos a Nova York?
- Será informado, quando necessário. E Daphne? Onde está?
- Está lá atrás.
- O rabo está no rabo. Mas sinto o perfume dela. As mulheres. Que posso dizer? Quem as criou? Deus é um gênio fodido! Os cabelos... Dizem que cabelo é tudo. Nunca enterrou o nariz numa montanha de cachos e só querendo dormir para sempre? Ou os lábios. Quando tocam nos seus são como o primeiro gole de vinho, depois de atravessar o deserto. Seios. Grandes, pequenos... os biquinhos te olhando como faróis secretos. E as pernas. Não ligo se parecem colunas gregas ou pianos de segunda mão. Entre elas está o passaporte para o céu. Preciso de um drinque. Sim, Sr. Simms, só há duas sílabas que valem a pena ouvir neste mundo... xota. Ouviu? São pérolas de sabedoria.
- Gosta um bocado de mulher!
- Acima de todas as coisas. Em segundo lugar, muito, muito distante, um Ferrari. Me dê a mão. Este é o início da sua educação.
...
- Está um dia lindo para fazer tudo o que deve. Um grande dia para fazer o que tem que fazer. Bom dia, Charlie.
- Bom dia.
- Esta é Sofia. É mágica com a agulha. Está ajustando meu terno novo. Encomendei um para você.
- Não preciso de roupas.
- É rotina, se o mandam a uma missão urbana. Se não gosta do terno, ao terminar a missão, devolve. No carrinho tem café e várias coisas gostosas. Levante-se e vista-se. É um grande dia para cantar, é um grande dia para curtir, de manhã à noite, é um grande dia para curtir com alegria.
- Como se sente?
- Super. Superior. Supérfluo. Sofia trabalha no feriado para pagar a universidade. Disse que você quer ir à universidade.
- Com licença.
- Aonde vai?
- Usar o telefone.
- Tem telefone aqui.
- Não quero perturbar.
- Não perturba. Ligue.
- É pessoal.
- Não entre lá! Pode falar daqui. Sofia, terei chance de tomar duas medidas?
...
- Quanto ao seu problema... Há dois tipos de pessoas... os que enfrentam as adversidades e os que fogem.
...
- “Mitsouki”. É sensual. Cuidado. Uma esposa inquieta começa a provocar.
...
- Parece que Gail é uma mulher belíssima. Mas noto tensão em sua voz. Das duas uma. Gail está nervosa, ou insatisfeita.
- Que quer dizer?
- Devia chupá-la.
- Chega, Frank.
- Se envolveu tanto com açúcar que esqueceu do mel!
- Frank, pelo amor de Deus!
- Há fogo embaixo do vestido.
- Chega!
...
- Quem está perto? Sinto um cheiro gostoso de água e sabonete vindo de baixo.
- É uma fêmea.
- Isso quer dizer que gosta dela ou não falaria assim. Está sozinha?
- Está sozinha.
- A coisa está esquentando. Cabelos castanhos?
- Castanho. Castanho claro.
- Tem 22 anos?
- Não sou adivinho.
- No dia que pararmos de olhar, morreremos. Ande.
- Para onde?
- Você sabe. Não seja tímido, Charlie. A mulher foi feita para você. Eu sinto. Linda de morrer, não é?
- Não é das piores.
- Bingo! Está vivo. Vamos, filho, perambule. Perambule.
- Desculpe, senhorita, podemos nos sentar com você? Parece negligenciada.
- Estou esperando alguém.
- Imediatamente?
- Não, a qualquer momento.
- A qualquer momento. Vive-se uma vida em um momento. Que está fazendo?
- Esperando por ele.
- Importa-se se esperarmos com você? Para que os paqueras não a perturbem.
- Não me importo.
- Obrigado. Sinto um perfume no ar. Não me diga qual é. Sabonete “Ogilvie”.
- Espantoso.
- Minha função é ser espantoso.
- É o sabonete que usei. Vovó me deu no Natal.
- Sou louco pela sua avó. Ela ia gostar de Charlie também.
- Não ligue para ele.
- Como é o seu nome?
- Donna.
- Donna, eu sou Frank e este é...
- Charlie.
- Ela gosta de você. Charlie está numa crise. Como diria que está enfrentando?
- Eu diria que muito bem.
- Ela gosta mesmo de você, Charlie. Então, Donna, dança tango?
- Não. Quis aprender, mas...
- Mas?
- Michael não quis.
- Michael, o que está esperando.
- Michael diz que o tango é hilário.
- Pois acho que ele é hilário.
- Não ligue. Já disse isso?
- Que riso bonito.
- Obrigada, Frank.
- Quer aprender o tango?
- Agora?
- Ofereço meus serviços, de graça. Que me diz?
- Acho que teria medo.
- De quê?
- De dançar errado.
- Ninguém erra no tango. Não é como na vida. É simples. Por isso é fantástico. Se erra ou se atrapalha, continua dançando. Não quer tentar? Vamos?
- Está bem. Vou tentar.