quarta-feira, janeiro 10, 2007

"Tecnológicos" e tradicionalistas


21 de setembro de 2005.

Foi publicada hoje, pela UOL, uma matéria (até que extensa) sobre a Disney. Em 2003, Glen Keane convidou cerca de cinqüenta desenhistas para uma conferência intitulada "O melhor dos dois mundos". Os desenhistas de animação da Disney estavam separados em dois campos opostos: de um lado, os que tinham habilidade na elaboração de animação computadorizada, e de outro, aqueles que se recusavam a abrir mão dos seus lápis. Mais tarde, David Stainton explicou para 525 empregados que os estúdios Disney iriam parar de produzir desenhos animados feitos manualmente num futuro próximo. Todos aqueles interessados em animação computadorizada poderiam assinar um contrato de reciclagem profissional cujo estágio teria duração de seis meses. "O que eu estava lhes dizendo era: `Ou vocês abraçam este oportunidade, ou em breve não haverá mais lugar para vocês nesta empresa'", contou Stainton. Os desenhistas de animação da companhia foram informados de que a Disney passaria a concentrar suas atividades na realização de filmes de animação computadorizada, abandonando assim a tradição antiga de 70 anos do desenho feito a mão em favor de um estilo mais atual que havia sido popularizado por rivais mais novos e bem-sucedidos tais como os estúdios de animação Pixar e a DreamWorks Animation. Conclusão, para resumir a matéria: no próximo dia 4 de novembro, cerca de dois anos e meio depois daquela decisão, a Disney vai lançar "Chicken Little" (no Brasil, "O Galinho Chicken Little"), o primeiro de uma seqüência de quatro filmes de animação computadorizada que vêm sendo desenvolvidos no estúdio desde a sua recente reorganização.
O mundo não caminha mais. O mundo corre e, se a gente bobear, fica para trás num curto espaço de tempo. Isso vale para a informação, para a linguagem, para a tecnologia, para a moda... Dia desses eu peguei uma revista direcionada a adolescentes e não entendi uma das chamadas de capa. Que expressão era aquela? O que significava? Tive que apelar a alguém quase vinte anos mais novo do que eu para entender...
Eu estudei a minha vida inteira para ser arquiteto. Daqueles antigos, de prancheta. Na hora de increver-me para o vestibular, porém, mudei de rumo, num surto da minha consciência. Jamais estudei arquitetura e, no dia da minha formatura, olhei para trás, para todos os meus colegas, e pensei: "o que eu estou fazendo aqui? O que vou fazer da minha vida agora?"
Alguns anos depois vi arquitetos trabalhando em computadores. A arte da prancheta terminou. Agora, a arte dos desenhos manuais acabará também. Ficará restrita às crianças, desde os seus primeiros rabiscos até uma certa idade, apenas.
Com os computadores, uma nova linguagem também se instala. Pior, na minha opinião, num caminho inverso ao avanço da tecnologia. Com os computadores também se alastra o individualismo, os filhos solitários nos seus quartos. Amizade, agora, é virtual. Cada dia mais virtual. Penso que alguns valores se perdem. A família se perde.
Vivam os tecnológicos! Sobrevivam os tradicionalistas!